Senhor, ajude-nos a cairmos sempre prostrados aos seus pés em sinal de constrangimento, submissão e amor!



sábado, 27 de dezembro de 2008

EU ACREDITO NO EVANGELHO DA CRUZ

“Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: Os profetas profetizam falsamente, os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles, e o meu povo assim o deseja. Mas o que fareis quando chegar o fim?”
Jr 5.30,32
A Igreja mística de Jesus não tem outra mensagem a pregar, outra atitude que não seja anunciar o evangelho da cruz. Sem sombra de dúvida, esta é a sina da Igreja. O evangelho completo ao homem completo; o evangelho todo a todo homem.

Quando Jesus disse que “as portas do inferno não prevalecerão contra minha igreja” (Mt 16.18), com toda certeza, estava profetizando sobre o processo de morte e ressurreição – caracteres visíveis e cruciais na teologia da salvação -, e sobre as arrebatadoras lutas e entraves, pelas quais sua Igreja passaria.

As artimanhas do adversário maior, na tentativa de impedir o avanço acelerado da Igreja ao longo da história, foram enormes e crescentes. Essas tentativas sempre passaram pela luta incansável em distanciar o evangelho da cruz. Quando a cruz sempre foi símbolo e marca no evangelho puro e sadio de Cristo, o diabo luta para ofuscar esse brilho. No mesmo texto de Mt. 16.13-23, Jesus assevera acerca de sua ida a Jerusalém, sofrer, padecer e morrer a fim de ressuscitar. A cruz estava nos planos de Deus já desde o princípio, como afirma o apóstolo Paulo em Fl 2.8: “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.

a) Os modernistas dos dias de Spurgeon

Charles Haddon Spurgeon (1834-92) foi o mais conhecido pregador da Inglaterra pela maior parte da segunda metade do século dezenove. Em 1854, apenas quatro anos após sua conversão, Spurgeon, então com apenas vinte anos, se tornou pastor da famosa Igreja Batista de New Park Street em Londres (anteriormente pastoreada pelo grande teólogo John Gill). A congregação rapidamente cresceu mais do que seu prédio poderia comportar, mudando-se então para o Exeter Hall, e de lá para o Surrey Music Hall. Nestes locais Spurgeon freqüentemente pregou para audiências com mais de 10.000 pessoas - e tudo isto em dias anteriores ao advento da amplificação eletrônica. Em 1861 a congregação se mudou definitivamente para o recém construído Tabernáculo Metropolitano.

Spurgeon foi um exímio pregador que confrontava o evangelho da cruz. Não aceitava que qualquer tipo de mensagem ferisse o cerne do evangelho – a mensagem da cruz. Sobre a adaptação da mensagem ao moderno de sua época, ele salientou:

“A idéia de um evangelho progressista parece ter fascinado a muitos. Para nós, essa idéia é uma espécie de híbrido de tolice com blasfêmia. Depois do evangelho ter se mostrado eficaz na salvação eterna de incontáveis multidões, parece tarde para querer muda-lo; e, visto que ele é a revelação de um Deus todo-sábio e imutável, parece um tanto audacioso tentar aprimora-lo. Quando trazemos à memória os cavalheiros que se propuseram a essa tarefa presunçosa, sentimo-nos bastante inclinados a rir; é como a proposta de toupeiras para melhorar a luz do sol...”

Spurgeon com sua mensagem sólida, revolucionou a segunda metade do século XIX. Levou até as últimas conseqüências, mas não usurpou, trocou ou barganhou com o evangelho da cruz.

b) O pragmatismo moderno

Hoje, estamos diante do pragmatismo, dos métodos folosóficos, sociológicos, etc e tal para se fazer a igreja crescer. Tentam adequar a mensagem do evangelho ao público. Não pode ser uma mensagem que fira os ouvidos, que cause dor ou algo parecido. Algumas igrejas hoje mais parecem auditórios repletos de pessoas desejosas para ouvirem exatamente aquilo que o pregador vai falar. Isto se dá pelo fato do pregador falar exatamente aquilo que o auditório deseja ouvir. O evangelho da cruz é diferente. Aqui o pregador fala o que o auditório precisa ouvir; necessita ouvir.

Sobre contextualizar a mensagem, ou seja, amoldar o evangelho àquilo que o público deseja ouvir, afirmou, acertadamente, John F. MacArthr Jr.:

“ (...) Em contraste, a ‘contextualização’ do evangelho em nossos dias infectou a igreja com o espírito desta época. Escancarou as portas da igreja para o mundanismo, para a superficialidade e, em alguns casos, para uma grotesca atmosfera de festividade. Agora é o mundo que dita a agenda da igreja.”

Pode até ser difícil, mas a batalha está travada. Como asseverou o profeta Jeremias: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra.” Não se trata de estratagemas para uma terceira guerra mundial ou algo de maior (sob a ótica humana) gravidade, não. É a união dos profetas e sacerdotes, sob a liderança do adversário maior para ludibriar o povo com um evangelho barato, sem cruz.

Acredito no evangelho da cruz por que:

1) É o evangelho bíblico

Paulo fala aos corintos: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Pois nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.1,2). O evangelho da cruz foi sempre a mensagem de Paulo. Nunca o apóstolo adequou o evangelho para acomodar a quem tivesse ouvindo. Para Paulo o evangelho sempre foi o evangelho da cruz, com suas marcas próprias.

Ainda que alguns hoje tentem amordaçar o evangelho, amenizar sua mensagem, contextualizar sua doutrina, o evangelho da cruz sempre apontará o pecado, contrastará o erro e mostrará o verdadeiro caminho (At. 4.12). O evangelho da cruz traz prejuízos a todos que queiram usufruir de forma ilícita. Ninguém ganhou com o evangelho, muito pelo contrário.

Às vezes me pego pensando: se o apóstolo Paulo (ou qualquer outro apóstolo) vivesse em nossos dias...

2) É o evangelho que não aceita barganha

“Os profetas profetizam falsamente, os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles, e o meu povo assim o deseja”.

Que coisa horrorosa! Mas é o que se presencia nos dias atuais, nos dias do pragmatismo. Pastores cedendo os púlpitos para que pregadores preguem exatamente aquilo que os pastores desejam ouvir. Os ouvintes gritam, sapateiam, esperneiam, tudo em nome de um poder que não sei de onde vem. Vivemos a máxima: “Ele finge que prega, a gente finge que entende.” Paulo na sua carta pastoral, admoestou Timóteo, dizendo “... porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças...” (2 Tm 4.3). É exatamente isso que presenciamos nos dias atuais. Pregação sem cruz; mensagem que faz cócegas aos ouvidos e satisfazem plausivelmente os ouvintes.

Há uma verdadeira barganha com o evangelho. Estão barateando a graça preciosa do Senhor.

3) É o evangelho da prestação de contas

“Mas o que fareis quando chegar o fim?”

O evangelho da cruz é o evangelho do caminho do Senhor. Paulo fala aos Cotintios sobre suas dificuldades (2 Cor 11). Caso o caminho do Senhor nos leve ao enfrentamento, à solidão, nada pode nos impedir de pregar o evangelho puro, o evangelho da cruz. Não podemos, em nome de um retorno financeiro ou reconhecimento trocar a mensagem do evangelho.

Quando chegar o fim, muitos dos que se dizem pregadores e portadores das verdades eternas se verão face a face com o Senhor, e não poderão fugir àquilo que o próprio Mestre lhes dirá.

Entendo que não podermos fugir a nossa sina, anunciar o evangelho da cruz. O evangelho sem engodo, sem mistura. Como afirma Francis Schaeffer: “Acomodar-nos ao espírito reinante no mundo contemporâneo é a forma mais grotesca de mundanismo, no sentido mais pleno da palavra”.

Que Deus nos abençoe!

Sola Scriptura.

domingo, 21 de dezembro de 2008

IBADAR REALIZA FORMATURA

Eu estava lá quando ele preparou os céus; quando traçou o horizonte sobre a face do abismo, quando firmou as nuvens acima, quando fortificou as fontes do abismo, quando pôs ao mar o seu termo, para que as águas não desobedecessem à sua ordem, quando compôs os fundamentos da terra. Então eu estava com ele e era sua aluna (...)
Pv. 8.27- 30
A noite do dia 20 de dezembro será, com toda certeza, um marco divisor para os alunos formandos do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Angra dos Reis. No auditório do Colégio Estadual Dr. Arthur Vargas, realizamos a formatura da turma Pr. João dos Santos Glória. Não se pode negar que foram momentos maravilhosos e inesquecíveis; desde o primeiro ato, composição da Mesa, até a diplomação.

O Senhor nos brindou com momentos mágicos. Os formandos entraram ao som do hino “Castelo Forte”, autoria de, nada mais que, Martinho Lutero (o grande reformador); em seguida, todos de pé, entoamos o nosso Hino Nacional Brasileiro, também ao som da Orquestra Eterno Louvor (Assembléia de Deus – Ministério Sul Fluminense). Depois se seguiram, a palavra do orador da turma, uma mensagem de consolo aos familiares do saudoso irmão Wilton Santos, que se formaria nesta data. Em seguida, mais um momento brilhante: as homenagens às três pessoas que se destacaram ao longo do ano, sob a ótica dos formandos e da direção do IBADAR: Pr. Profº Jorge Moraes, irmã Rosângela Rabha e Pr. João dos Santos Glória, que foi aplaudido de pé por cerca de 2 (dois) minutos. Foi, sem dúvida alguma, um momento áureo da formatura.

Em seguida foi feito o juramento pela turma de seguir fielmente os ideais de Cristo e lutar por uma teologia ortodoxa e não liberal. Após o juramento, houve um momento de louvor apresentado pela orquestra “Eterno Louvor” sob a regência do imponente servo de Deus, Pr. João Ramos. Foram cerca de 30 minutos de puro e verdadeiro louvor ao Senhor. Um preâmbulo para a mensagem.

Em seguida, o Pr. Profº Jorge Videira assumiu a tribuna para a ministração da Palavra do Senhor. Ministrou sob o texto de 2 Reis 5.1-13. O Pr. Jorge Videira dissecou o texto, falando sobre 12 acontecimentos na vida de Naamã que são de grande valia para o ministério. O teor de sua mensagem foi a aproximação do sagrado e o distanciamento de tudo que seja profano; a submissão incondicional à voz do Senhor em detrimento a qualquer outra ação. Foi o momento mais importante, mais esperado e mais aplaudido da formatura. Como o Senhor nos brindou com uma palavra maravilhosa!!!

Após a mensagem todos os presentes cantaram “Tu és fiel, Senhor”. Em seguida, coube ao Pr. Josias M. Ferreira, presidente da Assembléia de Deus – Ministério Sul Fluminense, expor suas palavras. Em seguida, sob a responsabilidade do Pr. Profº Luís Filipe Correa e do Pr. Profº Jorge Moraes, foi feita a entrega dos diplomas. Um momento maravilhoso e muito esperado.

Diante de todo o ocorrido e de uma formatura tão pomposa no auditório do CEAV, alguns pontos devem ser analisados e meditados:

a) O obreiro não deve se omitir diante da verdade bíblica e sagrada

Os novos formados em Teologia, assim como todos os obreiros, devem ter sempre em mente que a única verdade (não falo sobre verdades ou verdade relativa, falo sobre a única verdade) é aquela descrita na Palavra de Deus. Podemos expor os contraditórios sobre questões secundárias, tais como costumes de instituições, todavia, jamais sobre questões bíblicas.

Fomos chamados para sermos guardiões da Verdade e por ela lutarmos. Não podemos permitir calados, que os caracteres do pós-modernismo se infiltre nos meandros da ortodoxia e da ortopraxia, fazendo-nos escravos sem a verdade suprema.

b) A prática da verdade bíblica deve ser realidade em nossa vida

Não podemos ser apenas leitores e pregadores da verdade sagrada, mas precisamos ser muito mais que isso, precisamos ser praticantes da verdade bíblica. Como o Pr. Jorge Videira ministrou, “o verdadeiro homem de Deus não recebe nada de quem quer que seja, inclusive de políticos, sem saber a procedência”. É incrível a forma como os homens de Deus de hoje, não conseguem mais discernir entre ovelhas e eleitores, dizimistas e etc e tal.

Fomos chamados para sermos praticantes de toda verdade sagrada. A Bíblia é a inerrante palavra do Senhor, nossa bússola condutora. É por ela que devemos nos pautar em todas as questões, mesmo que seu direcionamento pareça estranho aos olhos da sociedade, nossa conduta deve ser direcionada pela Palavra do Senhor.

c) Somos obreiros em uma geração pós-moderna

E em última análise, precisamos entender que somos obreiros do pós-modernismo, ou seja, somos a geração que deve combater de forma clara, objetiva e firme, os postulados da pós-modernidade. A insegurança, a incerteza e a relatividade das questões, até então, absolutas são os alvos desse movimento demoníaco, no entanto, há uma geração de novos estudantes da Palavra de Deus que têm a convicção de que precisam trabalhar incansavelmente pela fé que uma vez foi dada aos santos.

Conclusão
Termino essa meditação, após os momentos mágicos da noite de ontem no auditório do CEAV, reafirmando que a Instituição de Ensino Teológico que, pela graça de Deus, dirijo caminhará sempre na direção da ortodoxia e da ortopraxia, lutando sempre contra quaisquer que se levantem contra o sagrado.
Sola Scriptura

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

SER PASTOR É...

Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, vigilante, sóbrios, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, mas moderado, inimigo de contendas, não ganancioso; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos sob disciplina, com todo respeito, não neófito, para que não se ensoberbeça e caia na condenação do diabo. (1 Tm 3.1-6)




Introdução

O vocábulo “pastor” vem do hebraico “raah”, no grego “poimén” e no latim “pastor”. Todos esses vocábulos têm a conotação de dirigir, cuidar dos rebanhos de ovelhas. Champlin afirma que “no sentido literal, um 'pastor' é alguém que cuida do rebanho. Aparece pela primeira vez em Gênesis 4.2, a fim de descrever a ocupação de Abel”.

Depreende-se dessa definição literal do vocábulo pastor, que há uma associação firme entre o ser pastor no contexto de João 10, onde Jesus faz apologia daquele que é chamado para dirigir seu rebanho, com a semântica que envolve e dilacera esse vocábulo.

Há muitos textos na Bíblia em que se percebe uma apologia ao ministério pastoral. No entanto, em João 10, vê-se o próprio Cristo encarnado fazer uma admoestação àqueles que almejam o episcopado. Atentemos para algumas características do verdadeiro pastor:

a) Pode entrar legalmente no aprisco das ovelhas (Jo 10.1)

O pastor é aquele que tem livre acesso às ovelhas. Pode olhar no olho da ovelha. “Entrar pela porta” ou no aprisco tem a conotação de respeito, autoridade reconhecida. Ele não pula muro, não precisa deixar a noite chegar, muito pelo contrário, entra a qualquer hora, anda no meio das ovelhas com autoridade espiritual.

Ser pastor é entrar legalmente no aprisco, é apascentar, ou seja, cuidar, zelar, proteger e conduzir as ovelhas. É óbvio que não se deseja passar a idéia de que ovelha é como “vaca de presépio”, não; ovelha tem opinião própria, é ser inteligente; e por isso mesmo ser pastor é saber conviver com o contraditório.

b) O bom pastor instrui as suas ovelhas com a sua palavra e o seu exemplo, e as guia (Jo 10.7)

Instruir é muito mais que transferir conhecimento. Instruir pertence ao campo semântico abrangente de alguém que amadurece uma idéia, um conceito; que vê brotar, nascer e que acompanha seu crescimento. Instruir alguém na Palavra é conduzir através do conhecimento, da simplicidade, da graça, a ovelha à plena vida com Deus.

Diferentemente do corpo diaconal, o pastor tem o compromisso de viver uma vida de constante oração e estudo sistemático da Palavra (At 6.4). Pastor que não tem autoridade bíblica pode até ter credencial de pastor, mas não o é. O verdadeiro e maior compromisso e missão do ministério pastoral é instruir a ovelha no caminho certo através da ministração da Palavra.

Percebe-se ainda, nesse versículo 7, que a ortopraxia deve ser considerada. O pastor instrui também com o seu exemplo. O pastor deve ter uma vida ilibada, uma conduta séria, firme. O pastor não foi chamado para administrar a casa de Deus como se fosse uma empresa e dela tirar proveito próprio. Infelizmente é o que mais vemos nos dias pós-modernos! Homens que lutam para ter uma credencial de pastor a fim de fundarem uma igreja e agirem como uma empresa. Pastor deve ter vida séria.

c) O verdadeiro pastor é inteiramente devotado ao seu rebanho e dá a própria vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11)

É claro que o texto faz menção direta ao ato expiatório de Cristo, onde “se entregou a si mesmo por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). Mas, fica evidente também, que ele “cutuca” o postulante ao ministério pastoral, pois esse deve ser inteiramente devotado às ovelhas; deve viver a vida das ovelhas, sofrer seu sofrimento, chorar seu choro.

Dentre muitas características que o pastor verdadeiro deve ter, uma que chama a minha atenção é a empatia. O pastor deve sentir o sentimento da ovelha, deve comungar com a ovelha. Isso é ser pastor. Há muitos, hoje na pós-modernidade, que não exercem o ministério pastoral, não pastoreiam, não conhecem as ovelhas, não visitam suas ovelhas, não vivenciam os problemas das ovelhas. Cristo, o Pastor maior, afirma categoricamente que o verdadeiro pastor dá sua vida pela ovelha. Não é isso que presenciamos hoje, muito pelo contrário!

“Dá a vida pela ovelha” tem a conotação muito mais abrangente que a literalidade. É padecer junto com a ovelha. O pastorado é um casamento, é uma só carne, um só pensamento, um só ideal. Costumo dizer em minhas aulas de Teologia Pastoral que o pastor é aquele que “como sapo e arrota camarão”. Chora e chora muito, mas aos pés do Senhor; diante das ovelhas, ele se apresenta como o ajudador, o que tem a palavra certa: a palavra de Deus.

d) O verdadeiro pastor garante a segurança do rebanho, tanto agora como para toda a eternidade (Jo 10.27-30)

A pós-modernidade, com suas incertezas plenas têm alavancado uma gama de pastores para esse caminho. O caminho da insegurança. Jesus foi claro e objetivo, afirmou que o verdadeiro pastor garante segurança às ovelhas. A segurança do pastor deve está na ortodoxia de sua mensagem, no conteúdo firme e sólido da exposição bíblica, e na ortopraxia de sua vida; sua conduta ilibada. Há uma mensagem segura, firme e sólida de vida eterna e salvação em Cristo que o inimigo maior que não se pregue, mas que o pastor deve anunciar, pois é esta mensagem que traz segurança às ovelhas.

Diante do exposto acima, não se pode negar que não existe bem maior nesse mundo do que ser chamado e vocacionado para o santo ministério pastoral. Não há honra maior do que ser pastor. É nítido que muitos, com suas atitudes mesquinhas, menosprezam e tentam diminuir a grandeza desse ministério, mas além de não conseguirem, vão receber do verdadeiro e sumo pastor suas devidas recompensas.

Não posso terminar esse artigo sem citar mais uma vez o Dr. Champlin: “Todas essas características fazem violento contraste com os falsos pastores, que são indivíduos totalmente egoístas e perversos, e que, na realidade, não podem oferecer qualquer dessas vantagens e bênçãos ao rebanho de Deus. Por conseguinte, é dito aqui que o verdadeiro pastor, que é Cristo, entra pela porta, isto é, pelos canais espirituais competentes, enquanto não tem necessidade de iludir, posto que todos os seus propósitos são benévolos”.

Destarte, façamos reflexões profundas e, caso necessário, mudemos nosso comportamento ante o ministério grandioso que nos foi confiado.

Sola Scriptura.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

PORQUE EU ACREDITO NA FÉ

“Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem. Foi por ela que os antigos alcançaram bons testemunhos.” Hebreus 11.1,2
No mundo pós-moderno, regido pelas incertezas e falsas convicções, afirmar algo é como dar um salto no escuro. É comum da pós-modernidade a incerteza, pois, como afirma John F. Macartur Jr., “é marcada por uma tendência a repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido da verdade” (A Guerra pela Verdade, Editora Fiel, 2008). Essa assertiva vem ao encontro do que o texto aos Hebreus salienta. A fé é o baluarte, o contraditório mais sólido para o pós-modernismo. Enquanto o pós-modernismo descarta a possibilidade do que seja seguro e sólido, a fé bíblica é a certeza e a prova das coisas que se esperam e não se vêem. É maravilhoso esse entendimento, exatamente porque nos eleva à condição de defensor das leis divinas.

Se a fé no pós-modernismo é atacada como nunca na história, faz-se necessário desenvolver um espírito crítico e um compromisso sólido e seguro com as assertivas prescritas na Bíblia Sagrada. Aprendi a acreditar na fé por razões subjetivas e empíricas; com o passar do tempo, aprendi a depositar confiança na fé por razões puramente Bíblica.

a) Acredito na fé porque me faz relacionar com Deus e o sagrado de modo muito mais seguro e íntimo

Há múltiplas razões para existir um relacionamento horizontal. Digo que todo relacionamento é pautado pelo concreto; de modo que sua falta, ou até mesmo a possibilidade de sua falta, acarreta em distúrbios, incertezas, descrenças e arrefecimento na relação. Com Deus é bem diferente! Com Deus, a base sustentadora do relacionamento não é o concreto, muito pelo contrário, é o abstrato, aquilo que existe na existência de outro. A fé é puramente abstrata, existe na existência de Deus. Não há crença em Deus fora da fé; não há vida com Deus sem fé. Destarte, a fé é o meio pelo qual o homem pode se relacionar com Deus e o sagrado. Charles Spurgeon foi muito feliz ao dizer que “uma pequena fé levará a tua alma ao céu; uma grande fé trará o céu para sua alma”. Essa é a relação de fusão.

Não há como desenvolver um relacionamento vertical sólido e seguro sem a base da fé. Não interessa o tamanho da fé, sua existência é suficiente para determinar uma relação com Deus. Muitos vivem ministérios raquíticos e sem perspectivas porque não trabalham a fé. Sua fé deixou de ser combustível para se tornar lugar comum.

Acredito na fé porque minha relação com Deus e o sagrado torna-se mais segura e íntima. É uma questão de sobrevivência!!


b) Acredito na fé porque é o meio pelo qual posso agradar a Deus

Não há como dissociar numa relação horizontal o prazer de agradar com o compromisso e responsabilidade. Toda relação horizontal é firmada no dualismo. Há um contrato firmado no concreto em que um se submete ao outro e vice versa. Na relação com Deus acontece dessa forma. Há a necessidade da fé, pois é o meio pelo qual Ele se agrada do homem. O escritor aos Hebreus discorre sobre o tema afirmando que “sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). Depreende-se desse texto que a fé é fundamental para se agradar a Deus.

É interessante que a fé conduz o homem à crença na existência de Deus e em seu beneplácito. Que tema lindo! Não há como entender ou desejar entender Deus se não partir da fé. A fé é, portanto, o início de todo relacionamento vertical e o caminho mais seguro para agradar o Criador. Charles de Fouccauld declara que “logo que descobri que existe Deus entendi que não podia fazer outra coisa a não ser viver por ele: minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou minha fé”. A fé pertence a Deus, está no mundo espiritual.

c) Acredito na fé porque ela me conduz ao encontro triunfal de salvação com Deus

Por mais que o homem seja portador de fé e que o próprio Jesus ordene que se tenha fé, não se pode negar nem duvidar que a fé pertence a Deus. “Foi por ela que os antigos alcançaram bons testemunhos”, assegura o escritor aos Hebreus, obviamente apontando para os heróis, sobre os quais comentaria ao longo de seu texto (Hb 11). Ninguém alcança bons testemunhos – do próprio Deus – caso não seja portador do suporte que sustenta a relação vertical, a fé.

O apóstolo Paulo afirma na carta aos efésios que “é pela graça que se é salvo (mudança na pessoa verbal), por meio da fé e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef. 2.8). Nitidamente, o apóstolo Paulo assegura que a fé é dádiva, dom, presente de Deus para uma condição clara: conduzir o homem ao seu encontro. A fé é o sustentáculo da salvação; é o selo dado por Deus àqueles chamados para a salvação.


Conclusão

Por mais que o mundo pós-moderno com suas incertezas tentem arrefecer a fé dos que estão no templo ou na igreja institucional, é importante que se tenha em mente a convicção de que a fé deve ser cultivada, desenvolvida e aquecida nos corações. A marca dos salvos é a fé. Não existe homem sem Deus que possa ter fé; assim como não há homem com Deus destituído de fé. A fé precede a experiência e a sustenta.

Eu acredito na fé; eu acredito em Deus; eu acredito nos ideais sagrados!

Sola Scriptura!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

DOIS PILARES DA SANTA IGREJA

“Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Respondeu-lhe Jesus: Bem aventurado é tu Simão Barjonas, pois não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus. E também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Mt 16.16-18

Introdução

É interessante pensarmos na passagem supra, levando em consideração o trajeto de Jesus com seus discípulos. Jesus não ia para Jerusalém ou uma outra cidade com um histórico de religiosidade. Se Ele funda sua igreja a caminho de, que fosse a caminho de Jerusalém; seria o mais óbvio, mais comum. No entanto, Jesus caminha por caminhos não convencionais. Seus caminhos, muitas vezes, opostos aos nossos; suas idéias são contrárias, muitas vezes, às nossas. Daí, por que ele funda sua Igreja Santa a caminho de Cesaréia de Filipe, uma cidade que, convenhamos, não está à altura de Jerusalém para receber o “status” que a partir desse momento recebeu.

Cesaréia

Essencialmente na Palestina, havia duas Cesaréias: a de Palestina, cidade romana, fundada por Herodes o Grande, situada na costa do Mediterrâneo, 37 Km ao sul do monte Carmelo e 100 Km ao noroeste de Jerusalém; e a Cesaréia de Filipe, cidade gentílica, situada no sopé do monte Hermom, no Antilíbano, na cabeceira principal do rio Jordão, 32 Km ao norte da Galiléia. Distava 40Km de Betsaida [dois dias de caminho desta última]. A antiga Panion também Paneas ou Panias, que hoje ainda subsiste com o nome de Baniyas numa aldeia das fontes do Jordão. Foi helenizada no século III aC com uma população, também na região, que em sua maioria não era judia. Em 20 aC, Augusto a cedeu a Herodes, que nela construiu um grandioso templo dedicado ao imperador, feito de mármore branco sobre uma rocha que dominava a cidade e a fértil planície da qual era capital a antigas Pâneas, assim chamada porque perto da cidade existia uma gruta, dedicada desde tempos remotos, ao deus Pan ou Panion. A cidade foi ampliada e embelezada pelo tetrarca Filipe, que lhe deu o nome de Cesaréia em honra de Tibério César. Por isso foi chamada de Cesaréia de Filipe. A partir do século II foi chamada de Cesaréia de Paneas e no século IV em diante, o termo Cesaréia desapareceu, permanecendo apenas o antigo Paneas. O templo sobre a rocha evidentemente era um símbolo que Jesus não devia desperdiçar.

Lendo o texto

Fazendo uma leitura simples do texto, pede-se depreender que o nascimento da Igreja se dá a caminho da mundanidade, do pecado. Jesus sempre teve em mente o real sentido de ser da igreja, por isso afirmou que “os sãos não necessitam de médicos, e sim, os enfermos” (Mt 9.12). A Igreja nasce para sustentar os ideais sagrados e implementar a salvação. Assim como temos um corpo com membros e os membros são extensão de uma essência, a Igreja é parte integrante e extensão de Jesus, pois Paulo afirma que “Ele é a cabeça do corpo, a igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1.18). Desta forma, pode-se pensar que a Igreja é agente de Cristo na terra para fazer concreta toda sua vontade. E a principal vontade de Jesus é a salvação dos homens.

Não há dúvidas de que a Igreja nasce a caminho da mundanidade e do pecado, simples e puramente para mostrar que seu papel fundamental é o entrelaçamento com os que estão necessitados, ou seja, os que estão no mundo e no pecado.

Outro ponto que merece reflexão é a artimanha do adversário maior. Em saber que a Igreja nasce para ser agente de Cristo na terra, o adversário maior se prepara, então, para uma guerra sem trégua. Daí o próprio Jesus afirmar que “...as portas do inferno não prevalecerão contra ela (igreja)” (Mt 16.18). Trata-se de uma batalha sem precedente na história. Os relatos bíblicos somados aos da história da Igreja demonstram que o adversário maior não tem outro objetivo se não o de lutar contra os ideais de Cristo, intrínsecos na vida da Santa Igreja. Isso leva a igreja a se sustentar sobre dois pilares:

a) A Igreja é cristológica

É interessante observar que a Igreja nasce de uma revelação. Jesus, ao se dirigir a Pedro, diz que a declaração de Pedro não foi produto do conhecimento formal ou experimental, muito pelo contrário, foi produto de uma revelação divina. Isto significa dizer que a Igreja é, em essência, cristológica. Ela existe por, em e para Cristo. A Igreja gira em torno de Cristo, como Cristo gira em torno da Igreja. Não há como conceber uma idéia de Igreja sem Cristo. Todo conglomerado de pessoas em torno de Cristo, permitindo que Cristo se movimente em torno de si é uma Igreja; o contrário, por sua vez, é simplesmente uma reunião de homens. Templos com pessoas cantando, orando, fazendo tudo parecido com culto, mas que não permite, por alguma razão implícita ou explícita a presença de Cristo não é igreja, é uma reunião de pessoas com boas intenções e similares.

A Igreja é cristológica em suas atitudes. Ninguém pode utilizar-se da igreja para o proveito próprio. Não se pode fazer da Igreja um balcão de negócios escusos. A Igreja nasceu da revelação divina para ser a centralidade de Cristo. É nela que Cristo se manifesta completamente. Veja o que Paulo diz aos Colossenses 2.9, “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Ora, se a Igreja é o corpo de Cristo e em seu corpo habita toda a plenitude da divindade, pode-se depreender dessa afirmação que na Igreja está toda a plenitude da divindade. Aí se configura o mistério do ser cristológico, e a Igreja é cristológica.

b) A Igreja possui uma cristologia sadia e bíblica

Alguém já disse que o “homem é aquilo que come”. A Igreja é exatamente aquilo que pensa sobre Jesus. É sua cristologia, seu pensamento, sua crença sobre Cristo que determinam que tipo de Igreja se é.

Quando Paulo foi aos Coríntios, teve a preocupação de ir desprovido do conhecimento formal e empírico para que sua mensagem não fugisse àquilo que é essência da Igreja. “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Pois nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.1,2). A Eclesiologia de Paulo passava pela sua Cristologia. Se Paulo nutria um sentimento de estruturar uma Igreja sadia em Corinto, ele precisava trilhar pelo caminho de uma Cristologia genuína.

Aos Gálatas, Paulo foi mais incisivo. Após expor o evangelho de Jesus na sua essência, após apresentar Cristo como o crucificado e cabeça da Igreja, ele não deixou pairar nenhuma sombra de dúvida afirmando, categoricamente, aos gálatas que “mais ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema” (Gl 1.8). Paulo sabia que da sistematização do doutrina de Cristo dependia o sucesso ou o fracasso daquela obra.

E assim deve ser o funcionamento da Igreja, Cristológica em tudo. Nunca permitir que Cristo tenha outro papel, senão o central. Ele é a cabeça do corpo, ele é o centro de todas as coisas, é a centralidade de nossa fé, é o alvo maior da Igreja. A isso se soma a sua Cristologia. O que a Igreja pensa sobre Cristo é que vai determinar sua funcionalidade.

Sola Scriptura!

BACHAREL EM TEOLOGIA RECONHECIDO PELO MEC

O IBADAR (Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Angra dos Reis - Ministério Sul Fluminense) firmou uma parceria com a FAECAD (Faculdade das Assembléias de Deus, devidamente reconhecida pelo MEC), visando à integralização dos cursos livres de Teologia.
Qualquer formado em Teologia em nível de bacharelado em instituição (Faculdade ou Seminário maior) que ofereça o curso de Teologia com 1600 horas ou mais está habilitado, munido dos devidos documentos comprovados, a fazer a integralização das matérias.
Se você está interessado, o IBADAR se prepara para oferecer a integralização das matérias a partir do próximo ano (2009). Os interessados devem procurar a secretaria do IBADAR ou os respectivos números telefônicos:
Rua Dr. Moacir de Paula Lobo, 179 Centro - Angra dos Reis
Tel. (24) 3365 3498 Ramal Ibadar
(24) 3365 1986 ou 9263 3192 (Pr. William de Jesus)
IBADAR "Se você tem um chamado, nós temos o lugar para o seu preparo"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

REFLEXÃO, É IMPORTANTE?

"Honrai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, respeitai o rei" 1 Pe 2.17


O dicionário da Língua Portuguesa descreve o vocábulo reflexão como sendo "ato ou efeito de refletir; exame da própria consciência; comentário, ponderação; consideração atenta". Depreende-se dessa afirmativa lingüística, portanto, que refletir perpassa pela solidão no sentido mais lato da palavra. Estar ou ser solitário não significa estar ou ser só. Camões asseverou que o "amor é solitário andar por entre a gente". Isso é magnífico, pois o ser pode se locomover entre a multidão e se encontrar solitário; destarte, solidão seria um estado de espírito. Indubitavelmente, a solidão é o "hodós", o caminho por onde deve passar todos os que almejam atingir o ápice da reflexão.

Os grandes homens de Deus, expostos na Bíblia Sagrada, enfrentaram a reflexão e conseguiram extrair grandes e inefáveis experiências que lhes valeram para seu ministério. É óbvio que a reflexão profunda não é privilégio daqueles que se entregam a Deus e ao Santo ofício Sacerdotal; muitos ligados à questão religiosa e à filosofia também andam pelo caminho da reflexão. Não se pode negar que refletir acarreta e abarca uma profundidade singular na aquisição de conceitos e princípios norteadores. Penso que foi exatamente por esta razão que Cristo foi o homem-Deus que mais exerceu o ministério da reflexão. Por inúmeras vezes, encontra-se o Mestre amado sozinho, em meditação... em reflexão. Foi assim no início de seu ministério terreno na ocasião de seu batismo e, posteriormente, o enfrentamento com o adversário no deserto da Judéia (Mt 4; Lc 4), foi assim na ocasião em que escolheu seus discípulos; no transcorrer de seu ministério e até em sua morte. Ele foi o maior exemplo de reflexão profunda.

O apóstolo Paulo também foi um exemplo de reflexão. Assevera à Igreja em Tessalônica para que orasse sem cessar (1 Ts 5.17). Isso leva-nos ao entendimento sadio de que nossa vida deve ser uma constante oração, um constante diálogo com o Senhor. Não se pode ter uma relação de diálogo com o Senhor desatrelado à vida de reflexão; não há oração sem reflexão. Quem vive uma vida de oração ou quem se predispõe a viver uma vida de oração, deve ter em mente que precisará desenvolver a prática da reflexão profunda. Deste modo, salienta-se que o ministério da reflexão, de que se falou alhures, é algo genuinamente bíblico e pertinente à vida de todos os que desejam o ofício sacerdotal.

Por tudo isso, precisamos desenvolver três máximas que a experiência da reflexão profunda nos proporciona:

a) É momento de crescimento com Deus

Há várias formas e métodos para crescermos e desenvolvermos nossa relação com Deus. Os acadêmicos estudam, dentro de uma logística filosófico-teológica (sei que se trata de um paradoxo), métodos, passos para se chegar a Deus. No entanto, pelos anais sagrados aliados às experiências marcantes e profundas dos heróis da fé, pode-se depreender que o melhor caminho ainda é o da reflexão profunda. É aqui nesse divã que Deus fala com o homem “cara a cara”, como diz o Reverendo Caio Fábio, “sem papai nem mamãe”. O momento da reflexão profunda é o instante em que o homem se abre para Deus sob dois aspectos básicos e fundamentais: primeiro, descobre-se como sendo o mais indigno dentre os homens. Percebe que há um vazio em sua alma; percebe sua insignificância diante do tédio. Segundo, descobre a grandiosidade de Deus. O homem que vive a reflexão profunda percebe que Deus é (para ele) do tamanho exato do seu vazio. É como se Deus existisse para ele. O brinquedo lego nos explica empiricamente essa lógica. Assim como as peças se encaixam perfeitamente formando objetos palpáveis, o homem na reflexão profunda percebe que Deus se encaixa perfeitamente em seu vazio formando um sujeito (para o mundo) e objeto (para Deus) palpável, visível e sólido! Isso é lindo.

b) É o momento da grande decisão

Todos os que primaram pelo caminho da reflexão profunda, tomaram decisões para o resto de suas vidas. É fato que não se entra no processo de reflexão sem que se tome, ao menos, uma decisão modificadora. Jacó no vau de Jaboque (Gn 32.22-32) se encontrou com o Senhor de forma singular até aquele momento, e não saiu dali do jeito como entrou, muito pelo contrário. Após uma noite de profunda “luta” com o Anjo do Senhor, profunda reflexão; Jacó não teve outra alternativa senão a de tomar uma grande, importante, valiosa e duradoura decisão: mudar completamente de vida. A vida de Jacó se divide em antes e depois de Jaboque, ou seja, antes e depois da noite em que experimentou a reflexão profunda, consequentemente, a noite da grande decisão.
É assim que acontece com todos aqueles que desejam experimentar o processo da reflexão profunda, nunca mais é o mesmo. Passa pela tomada de decisão. Diria que passa por uma "metanóia"; uma mudança radical. São decisões profundas que conduzem o homem a vivenciar na própria carne o desenvolvimento progressivo do relacionamento com Deus.
c) É o momento da confissão

Jesus, quando ensinou seus discípulos a orarem (Mt 6 e outras referências), por inúmeras vezes asseverou a importância da oração reflexiva que diferencia da oração congregacional. Chama-se oração congregacional aquela em que se faz com a participação da igreja ou de um grupo de irmãos. Essa oração é bíblica, é importante e deve sim fazer parte de nossa vida religiosa, pois aí está o elo visível dessa grande família e irmandade que é o corpo místico de Cristo. Chama-se oração reflexiva aquela em que o homem entra em seu quarto, fecha a porta e sozinho com Deus começa um diálogo franco, aberto. É o momento de falar e ouvir, o momento de tagarelar com Deus. É o instante da confissão sadia. Não há nada mais lindo e emocionante do que ter o prazer de apresentar a Deus os nossos pecados! Primeiro, porque Deus tem poder de perdoá-los e, segundo, porque após uma confissão marcada pela sinceridade recebe-se um alívio semelhante ao de quem viaja por três dias sem beber água e se depara com um calor causticante, senta-se em uma sombra e ingere um copo com água bem fresca. É um alívio indescritível!!
Orar sozinho é derramar, sem o mínimo de vergonha, sua alma diante de Deus. É refletir em sua vida e naquela que Deus te oferece; é chegar à conclusão de que nada se tem, nada se é, diante da imensidão do que Deus tem para ti; diante da imensidão do que Deus é em ti. A oração reflexiva leva-nos ao encontro mais sublime com Deus, ou seja, à confissão.

Conclusão

Não posso negar que estou vivendo um período, que já ultrapassa três meses, de profunda reflexão com Deus. Tem sido um período de grandes conquistas espirituais; de grandes lições que, com toda certeza, me levará a uma relação mais estreita com meu Deus. Esse período tem servido para eu compreender a grandiosidade do Senhor! Ele é muito maior do que a igreja institucional, do que o conglomerado de homens que constituem a igreja, enfim. Portanto, nada, absolutamente nada, será capaz de fazer com que Deus diminua; se extinga do seio de Sua igreja.
Tem sido um momento singular em minha trajetória cristã. Convido o caro leitor a entrar por esse caminho, o caminho da reflexão profunda acompanhada de oração, leitura e estudo sistemático, com pitadas de confissão séria e sadia.

Sola Scriptura.

sábado, 18 de outubro de 2008

QUANDO DEUS DIZ NÃO?

Pois é a vontade de Deus, que pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos, como livres, e não tendo a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. 1 Pe 2.15,16



Confesso que alguns temas têm me chamado a atenção não somente pela sutileza que os acompanha, mas também pela ambigüidade ideológica. Já ouviu “Há momentos que Deus se cala”, “Trezentos anos de silêncio de Deus na história”, “Quando Deus sussurra seu nome” e, é claro, “Quando Deus diz: Não”?. Por trás dessas frases de impacto, há algumas mensagens não trabalhadas por quem as escreve. Não que os escritores estejam cometendo algum tipo de erro, muito pelo contrário, pois eles seguem um caminho diferente do que eu me proponho a seguir. Vamos ler então, quando Deus diz não?

Na verdade, nunca Deus diz não. Deus sempre diz sim. Nós é que não fazemos, muitas vezes, aquilo que Ele nos manda, daí, quando as coisas acontecem contrárias àquilo que imaginamos, entendemos que o Senhor está dizendo não para nós. Deus sempre colocou à frente do seu servo as possibilidades, e descritas na Bíblia e fixada em nossas experiências particulares a Sua vontade, o seu desejo. Desta forma, entendemos que podemos fazer cumprir os ideais divinos, o que não nos impede de pecarmos. Quando dizemos que Deus nunca diz não, não estamos fazendo uma leitura superficial, marginal, mas mais profunda, mais centralizada na essência da Bíblia. Quando alguém diz que Deus disse não e faz uma apologia dessa afirmação complementando que experimentou (e contra fatos não há argumentos), não fico amedrontado pensando que estou defendendo uma heresia, muito pelo contrário, o convido a que me dê a mão e caminhe comigo pelo mundo da arte relacional com Deus. Pense bem, o Senhor só disse não àquilo que alguém faz ou esteja fazendo, exatamente porque um dia esse alguém saiu dos propósitos divinos, saiu do sagrado e se aliou ao profano, saiu do âmbito da integridade e esmerou-se pelos largos caminhos da corrupção. Destarte, temos duas formas de entendermos a voz, o pronunciamento do Senhor nessa experiência. A primeira é a superficial, a marginal, a transparente e visível: nitidamente Deus está dizendo não. “Não faça isso, meu filho”. Em outra ocasião, Ele diz não através de uma situação adversa, contrária.

A Segunda forma de entendermos o pronunciamento do Senhor nessa experiência é a profunda, a teológica, a bíblica, a da relação vertical e estreita com Deus. Nessa ótica, nessa leitura, não podemos analisar tão somente o visível, o presente, o aqui e agora. Deus não está dizendo não para essa minha situação, mas antes e acima de tudo, Ele está dizendo sim, e um SIM com letras maiúsculas para uma situação que eu menosprezei, para o sagrado que eu abandonei.

Não resta um pingo de dúvida, quando o homem de Deus pensa que o Senhor está dizendo não para ele em uma situação contrária, esse homem de Deus precisa entender que o Senhor está “gritando” sim para uma situação que ele conhece e deixou de lado. Estou querendo dizer que o Senhor prefere dizer sim para o sagrado, para a perfeição, para o caminho da fidelidade, do amor e da gratidão a dizer não para o profano, para a imperfeição, para todos os caminhos que ofuscam a beleza real de Cristo Jesus na vida de seus servos.

Precisamos, como servos do Senhor, entender tudo que o Senhor tem para nós e cultivar uma relação mais central, mais estreita com Ele. Precisamos analisar não somente o superficial, o palpável e visível, mas antes e primordialmente o que é profundo, espiritual. Se alguém vive hoje uma experiência onde pensa que o Senhor está dizendo não para uma situação, eu o convido a voltar em introspecção, oração e relação íntima com Deus para ver onde você errou, em que ponto da história de sua vida você deixou o sagrado, e quando você descobrir (e eu sei que vai descobrir, pois todos nós sabemos onde falhamos), com certeza, você vai ouvir o Senhor dizendo sim. Vai ouvir o Senhor dizer em nítido som: “Meu filho esse é o caminho de um homem bom!”

Sola Scriptura.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

JESUS À PORTA

Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Ap 3.20

Introdução
Laodicéia era uma pequena cidade, mas não por isso menos importante, situada no vale de Licos, na província da Frigia. Recebeu esse nome em homenagem à esposa de seu fundador, o Imperador Antíoco II da Síria, no 3ª século a. C.. Ficava localizada entre duas importantes cidades: Hierápolis, famosa por suas fontes de água quente; e Colossos, cercada por fontes de água mineral fresca. Veja a sina de Laodicéia: era abastecida pelas águas dessas duas cidades através de manilhas de barro, e a água quente que vinha de Hierápolis, chegava morna, e a água fresca que vinha de Colossos, esquentava no calor do sol e também chegava morna, logo suas águas eram mornas.

Mas, Laodicéia não possuía só suas águas mornas, era também conhecida por três atividades essenciais: confecção de roupas de lã negra, fortíssimo centro bancário por causa do ouro que ali circulava (troca de moeda) e por uma escola de medicina que fabricava um raro colírio para a cura dos olhos.

Eis que estou à porta

É interessante notar que o Senhor, em Filadélfia, pôs uma porta aberta (Ap 3.7), mas em Laodicéia, a igreja pôs uma porta fechada. Muitos lêem esse texto e o interpreta como que se o Senhor estivesse convidando os ímpios ao arrependimento, quando na verdade, o convite é feito a uma igreja. Laodicéia possuía sérios problemas, enfermidades e feridas profundas, no entanto o que mais doía no Senhor era encontrar a porta fechada. Isso deve nos levar a algumas reflexões e introspecções.

a) Conota perda de Comunhão
O primeiro homem a fechar a porta para o Senhor foi Adão (Gn 3). Houve ali uma ruptura na comunhão vertical entre Adão e o Deus. O pecado afastou Adão do Senhor e o fez alguém que anda escondido, atemorizado, sem paz. Adão possuía, ainda, um belo jardim, uma esposa muito bonita, mas havia perdido a comunhão com o Senhor. Ele fechou a porta para o Senhor! O pecado da desobediência, de fazer aquilo que o Senhor disse para não fazer, foi o pecado de Adão. Há uma necessidade mais que urgente da igreja do século XXI atentar para essa realidade. A desobediência afasta o homem do Senhor, fecha a porta, corta a comunhão. A artimanha do adversário é antiga, ele sempre trabalhou de um único jeito: esfriar a relação do homem com seu Senhor. Foi assim no passado e é assim hoje. Aparentemente, estamos cercados de iguarias. Tal qual Laodicéia, temos águas frescas de um lado e águas térmicas de outro, mas nos esquecemos de que essas águas não nos pertencem, as que nos pertencem são mornas. À semelhança de Laodicéia, temos atividades essenciais: roupas de frio para nos agasalhar em tempestades, riquezas imensuráveis e remédios para nossos olhos, no entanto, não temos sensibilidade nem percepção da decepção do Senhor diante de nossas atitudes. Ter colírio não resolve, por si só, o problema dos olhos. Israel foi advertido pelo Senhor por ter remédio, médicos, mas não ter a cura; “Porventura não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médicos? Por que, pois, não teve lugar a cura da filha do meu povo? (Jr 8.22). Depreende-se desse texto, portanto que mais importante não é ter colírio ou bálsamo, a cura se dá mediante um retorno à relação vertical com o Senhor; mediante à abertura da porta.

Após Adão, Israel também por várias ocasiões fechou a porta para o Senhor. Percebe-se, ao longo da história, que os homens fecham a porta para Jesus. Rompem a comunhão com o Senhor por motivos mesquinhos.

Se alguém ouvir, abrir... Entrarei, cearei

Diante do exposto, depreende que o Senhor não desiste. Dizem que o brasileiro não desiste nunca, penso que o Senhor é mais insistente. Ele percebe Laodicéia, uma igreja morna, aderindo aos anseios da carne e do pecado, distante da sã doutrina e dos bons costumes, longe dos marcos, causando ânsia de vômito, mas Ele está ali batendo incessantemente a porta do coração. Ele sempre amou a igreja. “... o qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso e de boas obras” (Tt 2.14). Ele só quer que haja uma disposição interna que desemboque em ação plena: abrir a porta.

Precisamos sair dessa inércia espiritual e tomar uma iniciativa. Precisamos dizer não ao pecado, não à conduta errada, não à distorção à Palavra de Deus, não aos conchavos, não à desobediência. Precisamos simplesmente abrir a porta.

As figuras expressas nos verbos entrar e cear representam a comunhão com Cristo. Creio que o maior desejo do Senhor é ter comunhão com seu filho. Ele entra na casa e habita nos corações daqueles que obedecem a sua palavra (Jo14.23). Cear com alguém sugere uma relação especial de pura intimidade. Era assim a festa ágape, festa do amor (1 Co 5.11; 10.21). É um privilégio especial comer à mesa com o Senhor e esse sempre foi seu desejo (Mt 26.29).

Conclusão

Penso que não estamos na hora de fazer outra coisa senão estreitarmos os laços de relação com o Senhor. Isso só se consegue através da obediência, a obediência incondicional aos seus mandamentos. Abrir a porta para o Senhor pressupõe obedecer-lhe e obedecer-lhe.

Sola Scriptura

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A MORALIDADE PRECEDE A LEGALIDADE

“O Senhor abriu o seu tesouro e tirou os instrumentos da sua indignação, porque o Senhor Jeová dos Exércitos, tem uma obra a realizar na terra dos caldeus.”


Perscrutando os anais da história eclesiástica, principalmente o período dos Pais da Igreja, encontram-se provas cabais do compromisso da Igreja com o sagrado. É nítida, clara e transparente a reação da Igreja contra tudo que fosse oposição às Sagradas Escrituras, tudo que não coadunasse com o que está fundamentado na Bíblia, tudo que ferisse a ética e a moral.

Essa postura da Igreja tem sua origem nas doutrinas de Jesus Cristo. Conquanto, a moralidade não. A moralidade foi ratificada por Jesus. Desde os primórdios da humanidade, os homens sérios já pautavam suas vidas por esse caminho. Uma coisa é certa: nem tudo que é legal, é moral. Daí a grande questão: é correto atrelar-se a um fato que é legal, mas não é moral? Muitos são os que navegam por essas águas. Sem nenhum tipo de constrangimento, sem nenhum tipo de vergonha ou pudor, agem na imoralidade naturalmente, simplesmente por que o que fazem, o fazem dentro da legalidade.

Na Idade Média, a situação era semelhante à de hoje. A lei era construída pela igreja, doravante, a igreja detinha todo o poder de legislar e gerir sem qualquer intromissão de alguma instituição. O que a igreja fazia era legal, inclusive cobrar as indulgências. Havia uma lei, uma autorização do Papa que dava legalidade a tal ato. Sim, cobrar as indulgências era legal! Mas Lutero não entendeu assim, muito pelo contrário, entendeu como todos os Pais da Igreja entenderiam. Como os santos homens de Deus entenderiam: nem tudo que é legal, é moral. E a Igreja deve seguir pelo caminho da moralidade todas as vezes em que tiver que optar por uma dentre as duas atitudes.

O século XVIII, conhecido como o século das luzes ou o iluminismo, foi o século dos grandes embates, da exposição nua, clara e nítida do contraditório. A teologia deixou de ser a “águia ciência” e passou a consolidar-se com os postulados filosóficos e os avanços científicos. Foi o século do arrefecimento espiritual, dos conchavos e trocas. Causando sempre perdas irreparáveis à igreja. No entanto, e talvez exatamente por isso, foi nesse século que o mundo serviu de palco para grandes profetas e avivalistas, tais como: Jonathans Edwards (1703 – 1758), pregador do famoso sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”; John Wesley (1703 – 1791); George Whitefield (1714 – 1770); Charles Finney (1792 – 1875), dentre outros. Tais homens de Deus não se deixaram influenciar pela máxima demoníaca de que o legal suplanta o moral. Não! Eles levaram adiante a máxima bíblica de morrer pelo que é ético, bíblico e moral.

Percebe-se claramente que algumas verdades estão deixando de ser anunciadas e ensinadas de forma mais expressiva em nossos púlpitos. As grandes discussões e os grandes embates pertencem ao âmbito do que é secundário e conseqüência. Não se discute nem se consolida a sã doutrina. Os que deveriam exercer o papel de líderes estão vendidos, literalmente nas mãos dos “homens maus” (infelizmente!) por troca de favores ou pelas moedas que tilintem em seus próprios bolsos. Mas não há problemas, segundos esses pseudos líderes, pois o que fazem é legal.

Quando Jonathans Edwards preparou seu mais conhecido sermão, havia ficado três dias inteiros em oração, jejum e estudo. Era comum esse homem de Deus ficar treze horas orando e estudando a Palavra. Se a igreja deseja impactar, causar um estrondo tal nesse mundo, incomodar mesmo essa geração, precisa o mais urgente possível rever sua postura, e primar, incondicionalmente, pela ética e moralidade.

Penso que é hora de uma nova reforma, tal qual a que aconteceu sob o ministério de Lutero em relação à Igreja Católica Romana, ou a que aconteceu sob o ministério de Wesley em relação à Igreja Anglicana. E por que não citar o avivamento da Rua Azuza. É preciso, e para isso me esforço e oro, que instituamos (os que amam a verdade e não desejam se vender) a Igreja Confessante. Nos mesmos moldes daquela que foi liderada por Dietrich Bonhoffer. Sem placa, sem CGC, sem inscrição estadual, mas compromissada com os ideais de Cristo, com os ideais dos apóstolos, dos pais da igreja e dos grandes reformadores e avivalistas, que precederam este século de escuridão e morbidez espiritual.

Tenho me prostrado aos pés do Senhor e chorado o caminho que a “igreja” tem tomado; tenho vertido lágrimas pelas lideranças frágeis e inconseqüentes que têm apresentado a lama para a igreja. Para tais líderes, eis o que diz o texto sagrado: “Os teus sacerdotes transgridem a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; entre o santo e o profano não fazem diferença; nem discernem o impuro do puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles” (Ez 22.26). É incrível, mas parece que o Profeta Ezequiel está nos nossos púlpitos falando conosco.

Ouçamos o Espírito.

Sola Scriptura.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

TESTEMUNHOS SOBRE DIETRICH BONHOFFER


"Os quais pela fé venceram reinos... foram mortos... (dos quais o mundo não era digno)..."
Hb 9.33-40


"Dietrich Bonhoeffer Na manhã do dia 6 de abril de 1945, entre as 5 e as 6 horas, os prisioneiros [...] foram retirados de suas células e o julgamento do tribunal de guerra lhes foi comunicado. Pela porta entreaberta de um quarto, no acampamento, eu vi, antes que os condenados fossem despidos, o pastor Bonhoeffer de joelhos diante de seu Deus em uma intensa oração. A maneira perfeitamente submissa e certa de ser atendida com que esse homem extraordinariamente simpático orava me emocionou profundamente. No local da execução, ele orou novamente e depois subiu corajosamente os degraus do patíbulo. A sua morte ocorreu em alguns segundos. Em cinqüenta anos de prática, jamais vi um homem morrer tão completamente nas mãos de Deus".

[Testemunho do médico do campo de concentração nazista Flossenburg, citado em D. Rance. Un siècle de temóins. Paris: Fayard-Le Sarment, 2000]


"O pensamento de Bonhoeffer ficou inacabado. A morte lhe chegou cedo demais. Foi então que surgiram seus diversos seguidores que tomaram emprestadas algumas de suas idéias dos escritos da prisão. Aconteceu a deformação de suas idéias e nosso autor foi transformado em precursor e pai da teologia da morte de Deus, da ética de situação e da teologia da liberação. Seus pretensos seguidores nunca levaram a sério sua formação teológica e a evolução de seu pensamento. Dezenas de livros foram escritos, mas poucos autores conseguiram penetrar nos labirintos do pensamento de Bonhoeffer".

[Prócoro Velasques Filho em sua obra Ética para nossos dias - Origem e evolução do pensamento ético de Dietrich Bonhoeffer]

Sola Scriptura!

PARA ANDAR SOBRE AS ÁGUAS, É NECESSÁRIO SAIR DO BARCO

"E Ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus." Mt 14.29

Eu havia preparado esse artigo há um tempo atrás, mas ainda não tinha um título. Foi quando recebi uma revista da Editora Vida e, para minha surpresa, ali estava um artigo escrito por um renomado pastor com esse tema. Não tive nenhum receio, fiz uma pequena alteração e copiei o título. É óbvio que o artigo é totalmente diferente, mas vale a explicação de onde veio o título.

O apóstolo Pedro quando ouviu a ordem do Senhor Jesus, não hesitou e foi ao encontro do Mestre. Confesso que perscrutando esse texto e me deixando envolver pela sua simplicidade e profundidade, cheguei a algumas conclusões pertinentes à vida cristã e à forma como a conduzimos.

“Andar sobre as águas”, fala de novos horizontes, novas propostas. Andar sobre as águas é solidificar o abstrato, concretizar o ideal, o sonho. No entanto, andar sobre as águas tem a conotação também de entrega total à vocação ministerial. É importante salientarmos que no envolvimento da vida cristã obtém-se, dentre muitas atitudes, a generosidade do Senhor. Foi o que aconteceu com Pedro, ele ouviu a ordem: “Vem”. Quantos de nós ouvimos essa ordem do Senhor e nos maravilhamos! Sim, maravilhamo-nos porque sabemos que somos úteis na obra do Mestre, porque podemos exercer o ministério a nós confiado, enfim.

“Andar sobre as águas”, portanto impele-nos a Cristo. É caminhar com o Senhor; ser participante de tudo que o Senhor destinou aos fiéis. É compartilhar com Cristo; ser Seu amigo; seu cúmplice. Andar sobre as águas é viver intimamente com o Senhor ao ponto de solidificar o que é líquido.

É isso que o Senhor deseja de sua igreja; que ela ande sobre as águas, que coloque em prática os seus ideais, que viva, cada dia mais intensamente os seus projetos, que lance mão no arado e não olhe para trás; que entenda e encarne a sua responsabilidade como agente de Deus na face da terra; que peça ao Senhor: “se és tu mesmo que está aqui e fala comigo, então me permita ir ao Seu encontro”; e, com certeza, ouvirá do Mestre, tal qual Pedro: “Vem”. Depois, ah! Depois é só lançar-se aos braços do Senhor e viver sobre as águas, viver na dependência exclusiva do Mestre. Aleluia!

Quando pensava nas razões básicas e nos privilégios de andarmos sobre as águas com Cristo, confesso que me veio uma sensação maravilhosa de que estava em outro mundo; pois não há nada mais agradável e mais importante neste mundo do que sabermos que somos úteis para o Senhor e que estamos sobre as águas com Ele. Todavia, pude voltar ao texto, perscrutá-lo mais um pouco e entender que Pedro só conseguiu o milagre de andar sobre as águas, só marcou seu nome nos anais da história cristã, porque um dia saiu do barco. O que representa sair do barco, então? Sair do barco tem a conotação de ato voluntário em seguir os passos e a ordem do Mestre. Sair do barco fala de disponibilidade interna, total e incondicional. Fala em aceitar os desafios propostos e amalgamados no santo ministério.

Não tenho dúvidas de que o Senhor deseja fazer dessa geração uma geração que marque, uma geração que faça acontecer, mas para isso é necessário que saiamos do barco. O barco da incredulidade, o barco da vida sossegada, o barco da escravidão, o barco do cristianismo mascarado, o barco do evangelicalismo, do modernismo, do farisaísmo, etc. Precisamos dar o primeiro passo, consciente de que o Senhor solidificará as águas a fim de que pisemos e marquemos nossos nomes na história. Não tenho dúvida alguma que ecoa a voz do Senhor nesse século dizendo: “Vem”. Sabemos que o mar está bravio, venta forte, é grande e intensa a luta, mas vamos sair do barco e andarmos sobre as águas. Vamos?

É muito importante sermos usados pelo Senhor, exercer nossos ministérios, mas não podemos nos esquecer de que para andarmos sobre as águas, é necessário primeiro sairmos do barco.....

Sola Scripturas.

domingo, 21 de setembro de 2008

A SANTA IGREJA, EM SUA TRAJETÓRIA, GUARDIÃ DOS VALORES E PRINCÍPIOS ETERNOS


INTRODUÇÃO


A Santa Igreja do Senhor é, indubitavelmente, a instituição mística guardiã dos valores e princípios eternos porque é o Corpo de Jesus. O nosso adversário, por sua vez, vem lutando, desde o princípio da história cristã, para desviar a Igreja de sua trajetória vitoriosa, apresentando sempre pressupostos teóricos e práticos que visam à destruição da Igreja.


Neste trabalho, sem pretensão alguma, apresentaremos, em três momentos, as artimanhas do adversário na sua incansável luta contra a Igreja. No período da Patrística, no período da Reforma Protestante e no período da hodiernidade.


Em todos esses períodos o adversário foi derrotado; e o foi porque a Igreja pautou suas idéias nos ideais sagrados, sobre os quais apresentaremos aqui. Nosso intuito é que todos os alunos dessa Escola Bíblica tenham consciência de sua participação nessa luta e, portanto, se apresente a Deus como “obreiro de que não tem do que se envergonhar”.


I - O Período da Patrística


A Patrística é o período que engloba o primeiro ao sexto século. Alguns estudiosos o colocam em datas um pouco divergentes, mas que giram em torno desse período. É também conhecido como o período dos Pais da Igreja, que, por sua vez, se subdivide em dois grupos: Os Pais Ante-Nicenos, porque o período de sua atuação se situa antes do grande marco na história da Igreja que foi o Concílio de Nicéia; e os Pais pós-Nicenos, porque o período de sua atuação ocorre depois do Concílio de Nicéia.


A Patrística é dividida em três grupos:


a) Os Pais Apostólicos: O período que abrange todo o primeiro século, encerrando-se com a morte de João, o último dos apóstolos a morrer.

b) Os Apologistas: O período que abrange os séculos posteriores ao primeiro. São os homens que Jesus levantou para convencer os líderes do estado de que os cristãos nada tinham feito para merecer a perseguição que lhes era impingida. Destacam-se nesse período: Justino Mártir, Atenágoras, Teófilo de Antioquia, Tertuliano, dentre outros.

c) Os Polemistas: É um período paralelo com o período dos apologistas, mas que tem objetivos diferentes. Os polemistas foram os homens que Jesus levantou para combater as doutrinas heréticas que tentavam entrar no seio da Igreja. Destacam-se nesse período: Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes, dentre outros.

É importante salientarmos que no período da Patrística ou dos Pais da Igreja, muitas heresias tentaram se instalar no seio da Igreja. Quase todas as tendências teológicas giraram em torno do conceito cristológico. vejamos algumas:

1) Ebionismo: Pregava um Jesus puramente homem, que, no ato do batismo, fora agraciado com poderes sobrenaturais.

2) Gnosticismo: Pregava a distinção entre Jesus e Cristo. Jesus era um homem comum, filho de José e Maria; Cristo era um espírito ou poder que desceu sobre Jesus quando de Seu batismo.

3) Arianismo: Pregava a divindade de Jesus, mas não aceitava sua eternidade. Aceitava que Jesus foi o primeiro dos seres criados, através de quem todas as outras coisas são feitas.

4) Apolinarianismo: Negava a integridade da natureza humana de Cristo. Afirmava que se Cristo é Deus, ou o Logos, divino, era incompatível uma inteligência infinita e uma vontade humana.

4) Nestorianismo: Negava a verdadeira união das naturezas humanas e divina em Cristo, afirmando ou dando a entender uma personalidade dupla em Cristo. Fazia objeção à frase: “Mãe de Deus”, usada pelos monges à Virgem Maria.

5) Eutiquianismo: Pregava a deificação da humanidade de Cristo ao ponto de hesitar em admitir que seu corpo era da mesma natureza que o nosso. Afirmava que não havia duas, mas apenas uma natureza em Cristo. Tudo acerca de Cristo era divino, mesmo Seu corpo.

II - O Período da Reforma Protestante


O Período da Reforma Protestante é um período singular na história da humanidade. Na verdade, o século XVI é marcado por um avanço enorme. Foi o século das grandes navegações, das grandes descobertas, da entrega às artes, à literatura. Não se pode negar que o homem já estava se desvencilhando das “amarras” impostas pela Igreja medieval.

O período, que precede a Reforma Protestante, conhecido como Humanismo, foi, sem dúvida, um marco divisor entre os ideais da Igreja Medieval e os ideais do homem.


Esse conceito acarretou mudanças em todas as áreas, inclusive, e talvez muito mais, na política. De modo que podemos afirmar que o mundo estava preparado para a Reforma Protestante.


Havia um interesse dos governantes de se libertarem de um poder centralizado em Roma; bem como havia uma mentalidade aberta demais para continuar amarrada às imposições de Roma.


O monge Lutero foi o primeiro a romper com Roma, mas ressaltemos aqui que nunca foi a vontade primeira de Lutero romper com a Igreja, seu desejo maior foi levar a Igreja de Roma ao entendimento que ela, ao longo da história, havia se desviado dos ideais sagrados.


Com Lutero, muitos líderes eclesiásticos, amparados pelos governantes de seus países ou províncias, também se distanciaram de Roma por questões doutrinárias. No entanto, houve uma tentativa do adversário para que o movimento da reforma fosse manchado por algumas heresias e tendências doutrinária-teológicas. Vejamos algumas:


a) A Venda das Indulgências: Muito embora tenha sido essa prática, fruto de concepções teológicas, que contribuiu muito para a Reforma. Muitos continuaram aderindo essa teologia. Pregava que havia uma participação do homem no processo de salvação. O homem, ao ofertar para a Igreja, poderia salvar sua alma ou a alma daqueles queridos que haviam mortos.

b) A questão da Doutrina da Predestinação: Muito embora tenha sido uma doutrina muito debatida, não contribui em nada para o processo de salvação. Prega a soberania de Deus. Tanto Lutero quanto Calvino aceitava tal doutrina, no entanto, Lutero aceitava a predestinação para a salvação, não dando muita atenção para os que se perdem; enquanto Calvino aceitava a dupla predestinação, tanto para a salvação como para a perdição, embasada na soberania de Deus. Foi um abalo na Igreja da Reforma.

c) O Conceito de Ceia: Lutero aceitava a consubstanciação como a melhor teologia para a Ceia do Senhor; Calvino negava a presença física de Cristo, aceitando apenas a presença espiritual de Cristo pela fé nos corações dos participantes.


III - O Período Atual


Nos dias atuais, muitas são as tentativas do adversário para desviar a Igreja de Jesus do seu foco, o céu através da observância das Escrituras. No entanto, por falta de tempo e espaço, vamos nos deter numa aberração que está ocorrendo em nosso meio e que tem, infelizmente, abarcado alguns irmãos – o Movimento G-12. Ressalta-se que esse processo evangelístico (células) em nada contradiz as Escrituras. Os métodos são eficazes desde que os resultados assim o sejam. No entanto, há uma teologia por trás dessa nomenclatura; não se trata apenas de um método inovador de uma evangelização eficaz, há todo um arcabouço teológico que contraria os ideais sagrados, por conseguinte, o repudiamos. Vamos trabalhar alguns pontos, abalizados pelo manifesto do Conselho de Doutrina da CGADB:


1) G-12: O movimento leva esse nome porque pensa e o atrela às doze tribos e aos doze apóstolos. Cremos que o número doze é presente em muitos aspectos na Bíblia, mas é um número como qualquer outro.

2) A Nova Visão: Acreditam que possuem uma nova visão. Cremos que o que Jesus pré determinou para a Igreja está inserido nas páginas da Bíblia, não cabendo nenhuma outra revelação nova ou nova visão. O apóstolo Paulo falou aos gálatas sobre isso – chamou de anátema.

3) Quebra de Maldição hereditária: Acreditam e pregam que muito do que se passa hoje é fruto e conseqüência de pecados cometidos por seus antepassados e até mesmo pela pessoa estando ela ainda no ventre materno. Ao passo que a Bíblia nos afirma que dos nossos pecados Jesus não se lembraria mais.

4) Libertação e cura interior: Assegura que salvação é decorrente dos encontros em que são realizadas as regressões, curas interiores, as libertações, etc. ao que refutamos, pois toda e qualquer tentativa de salvar o homem, fora do sacrifício de Jesus no Calvário é abominação às Santas Escrituras.


CONCLUSÃO:


Cabe a nós, servos do Senhor e militantes na santa Igreja, afirmarmos e reafirmarmos os ideais de Cristo prescritos na Bíblia Sagrada. Não permitirmos que nessa luta, o adversário saia vitorioso. Muito embora, cremos que a Igreja jamais perderá essa batalha.



BIBLIOGRAFIA
HAGGLUND, Bengt. História da Teologia. Concórdia Editora Ltda. 4ª Ed. 1989
CAIRNS, Earle E.. O Cristianismo Através dos Séculos. Ed. Vida Nova. 1992
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. IBR. 1999
www.avivamento.net/g-12 em 09/08/2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

ONDE A MORTE E A VIDA SE CONVERGEM


“Pois para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” Fp 1.21


A morte é, sem dúvida, um tema causador de grandes debates; seja na esfera teológica como em qualquer outra. Desde que o homem se entende por homem e passivo de morrer, ele discute, pensa, filosofa, conclui e não conclui, enfim; disseca sobre a morte. E quanto mais pensa, menos se conclui enfaticamente.

Esse tema é debatido no âmbito da filosofia como sendo um tema profundo, abrangente e, até certo ponto, salutar, pois é o caminho de todos os seres viventes, e não seriam viventes se não houvesse a possibilidade de morrerem. Para Platão, a morte representava a “libertação da alma dessa matéria inibidora”. O grande sábio entendia que na morte “o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal”. Por essa linha, seguem as escolas platônicas e neo-platônicas.

O cristianismo do primeiro século, que teve vários enfrentamentos com as filosofias neo-platônicas, apresenta um conceito de morte diferente do que estava em voga no momento.

a) A matéria não é má

Se a filosofia pregava a morte como uma libertação da alma, era automática a crença na fragilidade do corpo, num corpo mau. O cristianismo é implacável contra esse pensamento. Paulo fala sobre o engrandecimento do nome de Jesus em seu próprio corpo, seja na vida ou na morte (Fp 1.20).

b) A morte não é o fim último da vida

A filosofia anunciava o verdadeiro objetivo do ser humano como sendo a busca incansável pelo mundo ideal, conquistado apenas com a libertação da alma. O cristianismo primitivo entendia (como entende ainda hoje, óbvio) que o fim último do ser humano é a contemplação de Deus, seja nessa vida ou no porvir, e para tal, não é necessário que o homem se “liberte” do corpo, pois na contemplação final e eterna, o homem estará com corpo, pois Paulo fala na existência de corpos celestes e na ressurreição (1 Co 15.40, 42).

Nos dias atuais, esse tema continua sendo debatido, e continua controverso. O mais interessante é se entender que a morte em teoria não pertence a esse plano. Quando Paulo enfatiza a morte, no texto supra citado de Filipenses, há a nítida percepção de que ele tem um conceito muito mais abrangente e profundo do que temos ao analisarmos cruamente. À medida que se contrapõe a morte aos mais variados tópicos que permeiam a vida, fica mais distante o entendimento bíblico desse tema.

Não se pode pensar em questões espirituais em plano material. A morte deve ser analisada em plano espiritual. Daí o entendimento de que no plano superior, na esfera em que Deus age, morte e vida se confundem. Aqui, a morte tem várias conotações, tais como perda irreparável, ponto final em sonhos, ideais, enfim. E a pergunta que não quer calar: quem tem promessas, pode morrer? Não é fácil responder a tal pergunta, exatamente por que não é fácil fazer-se uma distinção entre a percepção de morte no prisma espiritual com suas conseqüências no âmbito material da percepção no prisma material.

Parto do entendimento de que tudo está no controle de Deus. É Ele quem faz como quer e quando quer. Daí o entendimento de que a morte pode nos alcançar hoje e nos causar grandes perdas, dores fortes e similares, mas no plano de Deus não. No plano de Deus a morte e a vida se convergem em uma só coisa. Não há diferença, não há espaço, não há tempo, a morte e a vida não são estágios para Deus como são para nós. Morre-se uma criança, para nós morreu uma criança; se morre um sacerdote, para nós morreu um sacerdote; se morre um autêntico servo de Deus com um ministério brilhante pela frente, para nós morreu um homem com um brilhante ministério pela frente. No plano de Deus não acontece desta forma. A morte não é separação, não acontece no tempo nem no espaço, pois Ele é atemporal e não se limita ao espaço. Tudo acontece num mesmo momento. Deus não faz distinção entre criança, jovem, ministério, enfim.

Diante de tudo isso, de todas as perguntas sem repostas, prefiro ficar com a frase de Moody: “Algum dia vocês lerão nos jornais que Moody morreu. Não creiam nisso, pois naquele dia eu estarei mais vivo do que agora ... Apenas fui encontrar com Deus”.

A morte é apenas um estágio que na ótica celestial se converge com a vida.

Karis kai eirene.

sábado, 13 de setembro de 2008

A CENTRALIDADE DO EVANGELHO NO CENTRO DA IGREJA

"Vós sois o sal da Terra. Mas se o sal se tornar insípido, com que se há de salgar? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte." Mt 5.13,14


Não posso negar que algo tem contribuído muito para alguns arrazoamentos que têm me afligidos nestes últimos tempos. Não são caracteres externos aos do cotidiano de quem vive ou luta para viver uma vida com Deus. A situação da Igreja do Senhor, o caminho que a liderança evangélica tem tomado, levam-me a profundas indagações e a meditações singulares. Lembro-me muito bem de um diálogo com um amigo ainda no seminário teológico, no Instituto Bíblico Central das Assembléias de Deus, na cidade de Pindamonhangaba, SP. Conversávamos acerca do futuro da Igreja e chegamos à conclusão de que estamos diante de dois problemas cruciais: primeiro, que tipo de obreiros vão assumir a igreja? Nossos obreiros, na maioria das vezes filhos de pastores, (estamos diante de uma hereditariedade desenfreada. Tratam a igreja como firmas) estão se interessando em ser advogados, psicólogos, administradores, contadores, engenheiros, menos pastores (talvez pelo fato de pensarem que o pastorado é uma questão de tempo). Não querem ir a um bom seminário, não querem cursar teologia, não querem se preparar para o exercício do ministério. E não o querem, talvez, e isso me entristece mais, por já terem a cadeira cativa.

Segundo, que tipo de igreja os novos obreiros vão receber. Talvez aí esteja o maior problema. Nossos líderes atuais não se preocupam ou não têm demonstrado preocupação com as relações e conchavos cancerígenos. Não se percebe nenhuma iniciativa para tirar a igreja, enquanto instituição que prima pela verdade sólida, absoluta e pela ética, desse caminho mórbido do balcão sujo de negócios escusos.

Sei que a Igreja é de Cristo e por isso jamais sofrerá danos, mas a igreja institucional administrada por homens negociadores tem se manchada e, com isso, ferido aqueles que são sérios. Não podemos perder, entre outras coisas, a centralidade de nossa função como Igreja de Cristo, nossa razão de ser e existir. Quando esquecemos quem somos, é porque esquecemos quem Cristo é, e ao esquecermos quem Cristo é, perdemos nossa identidade, e sem identidade de Cristo nada do que façamos ou dissermos causará impacto positivo na vida das pessoas. Esse é o maior problema da cristandade.

No entanto, há um mecanismo, há uma ferramenta para nos tirar desse marasmo espiritual: permitir que Cristo seja o centro do evangelho que pregamos. Precisamos resgatar nossa identidade de Igreja imaculada. O texto de Apocalipse 21.2 diz que João viu “a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido”. Notemos que a Igreja não se adereça, mas é adereçada, ou seja, ela sofre a ação. A Igreja não tem poder por si só, não tem autoridade por si só. A Igreja sem a centralidade de Cristo é um conglomerado de pessoas discutindo ideologia. Penso que seja pela aproximação com esses seres que a igreja sem a centralidade de Cristo vive seus dias de discussões ideológicas, feita um partido político. Mas não é isso que Cristo quer da Igreja. Muito pelo contrário, o que Ele deseja para a Igreja é que ela se posicione acima de todas as instituições e, como a instituição detentora da promessa de Cristo, se porte como atalaia, propagadora das verdades eternas e salvívicas.

É nesse afã e interesse que oro a Deus. Penso que a Igreja do Senhor voltará à centralidade do evangelho e portando a simplicidade do evangelho entenderá que ela é maior que todas as demais instituições. Sem perdermos a identidade de nosso Cristo, chegaremos ao sucesso final.

Karis kai eirene.

William de Jesus é Pastor auxiliar na Assembléia de Deus-Ministério Sul Fluminense e Diretor do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Angra dos Reis-IBADAR.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

VERGONHA COMO PRESSUPOSTO DO SAGRADO

Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus."


O apóstolo Paulo foi sem dúvida alguma um homem de Deus. Conheceu profundamente o propósito de Deus para a igreja, e sobre esse tema sistematizou seus ensinamentos. Certa vez, escrevendo a Timóteo, um jovem pastor a quem o próprio Paulo chamava de filho, disse:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

Há, nitidamente nesse versículo, uma preocupação, um zelo de Paulo com o desenvolvimento do ministério de seu filho Timóteo, pois o exercício do ministério desemboca em relevantes trabalhos que, por sua vez, despertam os curiosos de plantão e as astúcias do adversário maior. Destarte, nada melhor que um conselho de quem já experimentou as garras do mal e os convites mesclados de agrado que culminam na derrota final. Foi o que Paulo fez em relação a Timóteo.

No entanto, percebe-se que algo muito mais profundo que passar conselhos práticos estão intrínsecos nesse texto:

a) Conotação de preparo.

Quando Paulo diz a Timóteo “procura apresentar-te a Deus aprovado”, ele não quer dizer nada menos que: “Esteja preparado.” No entanto, em que consiste esse preparo? Sabe-se que o homem de Deus deve se preparar holisticamente, em todos os planos e esferas de suas relações. O preparo, sobre o qual o apostolo fala, perpassa o natural, físico, empírico e atinge o sobrenatural. Enfim, há tantas outras situações que poderiam ser esmiuçadas aqui, mas não se fará porque o texto delineia e aponta a direção desse preparo.

b) Conotação de não ter vergonha.

É interessante que Paulo, ao introduzir o caminho do preparo do homem de Deus, o faz com uma oração subordinada adverbial conformativa (ainda que alguns a tenham como comparativa): “... como obreiro que não tem de que se envergonhar...”. A vida do homem de Deus deve ser então sem pecado? Não, obviamente que não. Afinal de contas, todos somos pecadores por natureza, mas não se pode ter comprometimento com o pecado. O pecado é para ser confessado e deixado. Uma vez deixado, esse pecado não faz parte mais de nossas vidas. Vergonha aqui tem o sentido de postura ética e moral; compromisso com os ideais sagrados, pois essa oração é explicada por outra, que é nosso terceiro ponto.

c) Conotação de ter a Bíblia como única regra de fé e prática.

Assim Paulo encerra seu conselho a Timóteo (ao menos nesse versículo): “... que maneja bem a palavra da verdade.” Ou seja, a Bíblia sagrada deve ser o centro de nossa atenção. É na palavra de Deus que se deve buscar entendimento sobre todas as coisas. Manejar a palavra da verdade é ter um mínimo de conhecimento bíblico, é fazer, ao menos, uma leitura da Bíblia por dia. É ter uma relação estreita com a Bíblia Sagrada. O dia em que essa prática for uma realidade constante ter-se-á obreiros mais ávidos pelo sobrenatural de Deus.

É com esse entendimento do texto supracitado, que se deve pautar o homem que se diz de Deus. Não deve deixar o adversário maior ludibriá-lo. O homem de Deus é uma liderança natural e tem compromisso com seus liderados. Precisa tomar cuidados para não cair nas artimanhas do mal. Há uma ideologia cristã que está acima de quaisquer prerrogativas ou adereços que possam ser apresentados em balcões. O obreiro é, por natureza, um ser de Deus e sua vida deve ser pautada na doutrina prescrita na Bíblia Sagrada.

A hora chegou. Hora em que muitos chegarão diante dos obreiros de Deus para negociar os votos das ovelhas. Temos consciência de que estamos em uma sólida democracia e que cada um tem direito sobre seu voto, mas não se pode negar que uma boa liderança tem certo “poder” sobre seus liderados, e deve ter mesmo. No entanto, obreiros de Deus, repousa sobre os Senhores Reverendos a responsabilidade de ter vergonha e não ter, diante de Deus, de que se envergonhar. Não ter de que se envergonhar diante de Deus é melhor do que barganhar o sagrado por qualquer “prato de lentilhas”.

O obreiro de Deus tem responsabilidade social e política, além obviamente da religiosa, mas deve exercê-la à luz da Palavra de Deus, pois ecoa muito forte o brado de Paulo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.


William de Jesus é Pastor auxiliar da Assembléia de Deus – Min. Sul Fluminense e Diretor do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Angra dos Reis – IBADAR.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

RELIGIÃO HERDADA... CRISTIANISMO SEM CRISTO

Na atual conjectura que estamos vivendo, não se faz necessário ser um “PH.D” para tomar conhecimento de que estamos em crise. Esta crise atinge-nos através dos mais diversificados setores: crise na economia, na política, na saúde, na educação; enfim, crise na esfera material. Na religião, não poderia ser diferente. Estamos, também, vivendo uma crise na religiosidade.

Confesso que perscrutando um texto bíblico, Jo. 4:4, cheguei a um envolvimento mais profundo dessa crise na realidade atual. Nosso problema já foi apresentado por Cristo na passagem supra e, no século passado, por Dietrich Bonhoeffer. Analisemos primeiro o pensamento de Bonhoeffer e depois a dissertação de Cristo.

Dietrich Bonhoeffer (D.B.), pastor e teólogo alemão martirizado no ano de 1945 por defender os ideais cristãos e lutar ideologicamente contra os postulados de Adolf Hitler, foi o arauto, o profeta que o Senhor levantou no século passado para apresentar as razões por que a igreja e a sociedade passaram por crise religiosa. D.B. percebeu que “o mundo chegou à maioridade” e, por conseguinte, necessitava de um “cristianismo a-religioso”, ou seja, a religião que permeava o ser humano era herdada, mascarada, não produzia mudança de vida nem de comportamento.

Enquanto a igreja se fechava em seus “dogmas” e tradições que não a levavam a lugar algum, o mundo “crescia” ideologicamente, se alimentando das filosofias de Frederich Nietzsche que pregava “a morte de Deus” e o “advento do super-homem”.

D.B. foi o homem levantado pelo Senhor para anunciar à sua geração que a igreja precisa muito mais do que uma religião herdada, muito mais do que um nome, uma fachada, pois tudo isso, sem a essência da religião de Cristo – o próprio Cristo – não passa de um cristianismo barato, sem o Cristo da cruz.

A voz de D.B. foi calada por Hitler, mas sua mensagem continua a nos falar bem forte. Que o nosso cristianismo possa ser desprovido da religião farisaica que nos permite embaraçarmos com as doutrinas bíblicas e cristãs pertinentes à salvação em detrimento às tradições e aos dogmas puramente “religiosos”.

O próprio Jesus falou-nos sobre o cristianismo sem Cristo, que nos é oferecido pela religião herdada, em Jo.4:4. É importante frisar que “era necessário Jesus passar por Samaria”. O texto, em nenhum momento nos passa a impressão de que aquele era o único caminho. Havia uma necessidade de ordem espiritual. Quando Jesus trava o diálogo com a samaritana, ela lhe fala sobre a adoração no monte, quando os judeus adoravam no templo. Este era o grande problema. Aí se concentrava a problemática da religião herdada, e Jesus tratou logo de resolvê-la: “... os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade...” (Jo. 4:23).

O que vemos aqui é que a samaritana nem sabia por que adorava no monte. Ela assim o fazia porque seus pais também assim o fizeram, ou seja, sua forma de adorar e apresentar sua religião foi herdada. Não havia significado em sua religião, e quando nossa religião perde o significado, nosso cristianismo perde Cristo.

O grande problema não está em sermos ou não religiosos, mas em sabermos se Cristo está ou não no nosso cristianismo. Vejamos algumas idagações: onde estamos indo em nome de nossa religião? A que tipo de programas estamos assistindo? Que tipo de revista estamos folheando? Que tipo de culto prestamos a Deus?

Quando a religião é puramente herdada e sem Cristo, temos a ”certeza” da salvação, mesmo que não a vivenciemos, mas achamos que a temos; daí advém as “algazarras” nos encontros joviais onde a reverência sede lugar ao extravaso desordenado. Não somos adeptos à liturgia letárgica e ultrapassada, mas defendemos a boa ordem no culto e a adoração, além da reverência. Cremos que podemos prestar um culto alegre, carismático e longe de um mundanismo que é reflexo da religião herdada... cristianismo sem Cristo.

Aprendamos com Jesus e com Bonhoeffer e analisemos nossos postulados e nossas vidas, a fim de chegarmos a uma conclusão satisfatória sobre nossa conduta. Que tipo de crentes temos sido? O nosso cristianismo tem feito a diferença? Caso não, é porque temos sido simplesmente religiosos sem Cristo.

O que Jesus exigiu da samaritana, e exige de nós, igreja poderosa e militante, é que entendamos sua mensagem e deixemos de lado as tradições puramente denominacionais que não nos levam a nada, e nos firmemos na doutrina de Sua palavra. Côncios de que a religião de Cristo é aquela que nos trás experiências profundas, marcantes e lineares. Precisamos mais do que nunca fixar nossos olhos em Cristo, firmarmos no cristianismo com Cristo e mancharmos para o Céu.

Deixando o evangelho barato, abraçando a religião de Cristo, nosso cristianismo fará a diferença.


William de Jesus é Pastor auxiliar na Assembléia de Deus – Ministério Sul Fluminense e Diretor do IBADAR (Instituto Bíblico das Assembléias de Deus de Angra dos Reis).