Senhor, ajude-nos a cairmos sempre prostrados aos seus pés em sinal de constrangimento, submissão e amor!



sexta-feira, 5 de setembro de 2008

VERGONHA COMO PRESSUPOSTO DO SAGRADO

Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus."


O apóstolo Paulo foi sem dúvida alguma um homem de Deus. Conheceu profundamente o propósito de Deus para a igreja, e sobre esse tema sistematizou seus ensinamentos. Certa vez, escrevendo a Timóteo, um jovem pastor a quem o próprio Paulo chamava de filho, disse:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

Há, nitidamente nesse versículo, uma preocupação, um zelo de Paulo com o desenvolvimento do ministério de seu filho Timóteo, pois o exercício do ministério desemboca em relevantes trabalhos que, por sua vez, despertam os curiosos de plantão e as astúcias do adversário maior. Destarte, nada melhor que um conselho de quem já experimentou as garras do mal e os convites mesclados de agrado que culminam na derrota final. Foi o que Paulo fez em relação a Timóteo.

No entanto, percebe-se que algo muito mais profundo que passar conselhos práticos estão intrínsecos nesse texto:

a) Conotação de preparo.

Quando Paulo diz a Timóteo “procura apresentar-te a Deus aprovado”, ele não quer dizer nada menos que: “Esteja preparado.” No entanto, em que consiste esse preparo? Sabe-se que o homem de Deus deve se preparar holisticamente, em todos os planos e esferas de suas relações. O preparo, sobre o qual o apostolo fala, perpassa o natural, físico, empírico e atinge o sobrenatural. Enfim, há tantas outras situações que poderiam ser esmiuçadas aqui, mas não se fará porque o texto delineia e aponta a direção desse preparo.

b) Conotação de não ter vergonha.

É interessante que Paulo, ao introduzir o caminho do preparo do homem de Deus, o faz com uma oração subordinada adverbial conformativa (ainda que alguns a tenham como comparativa): “... como obreiro que não tem de que se envergonhar...”. A vida do homem de Deus deve ser então sem pecado? Não, obviamente que não. Afinal de contas, todos somos pecadores por natureza, mas não se pode ter comprometimento com o pecado. O pecado é para ser confessado e deixado. Uma vez deixado, esse pecado não faz parte mais de nossas vidas. Vergonha aqui tem o sentido de postura ética e moral; compromisso com os ideais sagrados, pois essa oração é explicada por outra, que é nosso terceiro ponto.

c) Conotação de ter a Bíblia como única regra de fé e prática.

Assim Paulo encerra seu conselho a Timóteo (ao menos nesse versículo): “... que maneja bem a palavra da verdade.” Ou seja, a Bíblia sagrada deve ser o centro de nossa atenção. É na palavra de Deus que se deve buscar entendimento sobre todas as coisas. Manejar a palavra da verdade é ter um mínimo de conhecimento bíblico, é fazer, ao menos, uma leitura da Bíblia por dia. É ter uma relação estreita com a Bíblia Sagrada. O dia em que essa prática for uma realidade constante ter-se-á obreiros mais ávidos pelo sobrenatural de Deus.

É com esse entendimento do texto supracitado, que se deve pautar o homem que se diz de Deus. Não deve deixar o adversário maior ludibriá-lo. O homem de Deus é uma liderança natural e tem compromisso com seus liderados. Precisa tomar cuidados para não cair nas artimanhas do mal. Há uma ideologia cristã que está acima de quaisquer prerrogativas ou adereços que possam ser apresentados em balcões. O obreiro é, por natureza, um ser de Deus e sua vida deve ser pautada na doutrina prescrita na Bíblia Sagrada.

A hora chegou. Hora em que muitos chegarão diante dos obreiros de Deus para negociar os votos das ovelhas. Temos consciência de que estamos em uma sólida democracia e que cada um tem direito sobre seu voto, mas não se pode negar que uma boa liderança tem certo “poder” sobre seus liderados, e deve ter mesmo. No entanto, obreiros de Deus, repousa sobre os Senhores Reverendos a responsabilidade de ter vergonha e não ter, diante de Deus, de que se envergonhar. Não ter de que se envergonhar diante de Deus é melhor do que barganhar o sagrado por qualquer “prato de lentilhas”.

O obreiro de Deus tem responsabilidade social e política, além obviamente da religiosa, mas deve exercê-la à luz da Palavra de Deus, pois ecoa muito forte o brado de Paulo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.


William de Jesus é Pastor auxiliar da Assembléia de Deus – Min. Sul Fluminense e Diretor do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Angra dos Reis – IBADAR.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

RELIGIÃO HERDADA... CRISTIANISMO SEM CRISTO

Na atual conjectura que estamos vivendo, não se faz necessário ser um “PH.D” para tomar conhecimento de que estamos em crise. Esta crise atinge-nos através dos mais diversificados setores: crise na economia, na política, na saúde, na educação; enfim, crise na esfera material. Na religião, não poderia ser diferente. Estamos, também, vivendo uma crise na religiosidade.

Confesso que perscrutando um texto bíblico, Jo. 4:4, cheguei a um envolvimento mais profundo dessa crise na realidade atual. Nosso problema já foi apresentado por Cristo na passagem supra e, no século passado, por Dietrich Bonhoeffer. Analisemos primeiro o pensamento de Bonhoeffer e depois a dissertação de Cristo.

Dietrich Bonhoeffer (D.B.), pastor e teólogo alemão martirizado no ano de 1945 por defender os ideais cristãos e lutar ideologicamente contra os postulados de Adolf Hitler, foi o arauto, o profeta que o Senhor levantou no século passado para apresentar as razões por que a igreja e a sociedade passaram por crise religiosa. D.B. percebeu que “o mundo chegou à maioridade” e, por conseguinte, necessitava de um “cristianismo a-religioso”, ou seja, a religião que permeava o ser humano era herdada, mascarada, não produzia mudança de vida nem de comportamento.

Enquanto a igreja se fechava em seus “dogmas” e tradições que não a levavam a lugar algum, o mundo “crescia” ideologicamente, se alimentando das filosofias de Frederich Nietzsche que pregava “a morte de Deus” e o “advento do super-homem”.

D.B. foi o homem levantado pelo Senhor para anunciar à sua geração que a igreja precisa muito mais do que uma religião herdada, muito mais do que um nome, uma fachada, pois tudo isso, sem a essência da religião de Cristo – o próprio Cristo – não passa de um cristianismo barato, sem o Cristo da cruz.

A voz de D.B. foi calada por Hitler, mas sua mensagem continua a nos falar bem forte. Que o nosso cristianismo possa ser desprovido da religião farisaica que nos permite embaraçarmos com as doutrinas bíblicas e cristãs pertinentes à salvação em detrimento às tradições e aos dogmas puramente “religiosos”.

O próprio Jesus falou-nos sobre o cristianismo sem Cristo, que nos é oferecido pela religião herdada, em Jo.4:4. É importante frisar que “era necessário Jesus passar por Samaria”. O texto, em nenhum momento nos passa a impressão de que aquele era o único caminho. Havia uma necessidade de ordem espiritual. Quando Jesus trava o diálogo com a samaritana, ela lhe fala sobre a adoração no monte, quando os judeus adoravam no templo. Este era o grande problema. Aí se concentrava a problemática da religião herdada, e Jesus tratou logo de resolvê-la: “... os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade...” (Jo. 4:23).

O que vemos aqui é que a samaritana nem sabia por que adorava no monte. Ela assim o fazia porque seus pais também assim o fizeram, ou seja, sua forma de adorar e apresentar sua religião foi herdada. Não havia significado em sua religião, e quando nossa religião perde o significado, nosso cristianismo perde Cristo.

O grande problema não está em sermos ou não religiosos, mas em sabermos se Cristo está ou não no nosso cristianismo. Vejamos algumas idagações: onde estamos indo em nome de nossa religião? A que tipo de programas estamos assistindo? Que tipo de revista estamos folheando? Que tipo de culto prestamos a Deus?

Quando a religião é puramente herdada e sem Cristo, temos a ”certeza” da salvação, mesmo que não a vivenciemos, mas achamos que a temos; daí advém as “algazarras” nos encontros joviais onde a reverência sede lugar ao extravaso desordenado. Não somos adeptos à liturgia letárgica e ultrapassada, mas defendemos a boa ordem no culto e a adoração, além da reverência. Cremos que podemos prestar um culto alegre, carismático e longe de um mundanismo que é reflexo da religião herdada... cristianismo sem Cristo.

Aprendamos com Jesus e com Bonhoeffer e analisemos nossos postulados e nossas vidas, a fim de chegarmos a uma conclusão satisfatória sobre nossa conduta. Que tipo de crentes temos sido? O nosso cristianismo tem feito a diferença? Caso não, é porque temos sido simplesmente religiosos sem Cristo.

O que Jesus exigiu da samaritana, e exige de nós, igreja poderosa e militante, é que entendamos sua mensagem e deixemos de lado as tradições puramente denominacionais que não nos levam a nada, e nos firmemos na doutrina de Sua palavra. Côncios de que a religião de Cristo é aquela que nos trás experiências profundas, marcantes e lineares. Precisamos mais do que nunca fixar nossos olhos em Cristo, firmarmos no cristianismo com Cristo e mancharmos para o Céu.

Deixando o evangelho barato, abraçando a religião de Cristo, nosso cristianismo fará a diferença.


William de Jesus é Pastor auxiliar na Assembléia de Deus – Ministério Sul Fluminense e Diretor do IBADAR (Instituto Bíblico das Assembléias de Deus de Angra dos Reis).


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

COMO NUVEM DE GAFANHOTOS, ELES ESTÃO CHEGANDO!

“O que ficou do gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que ficou do gafanhoto migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que ficou do gafanhoto devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor”. Joel 1.4.

Há algum tempo, venho pensando profundamente na possibilidade de expor, através de um artigo, meus pensamentos e minhas idéias sobre o real quadro de pura instabilidade, incertezas e morbidez que permeia nossa sociedade angrense. Quadro esse, fruto da inconsistência e depravações dos valores ético-morais, os quais devem pautar nossa conduta em todos os setores de nossas vidas.

Foi com pesar, tristeza e decepção que tomei conhecimento da desistência da terceira via. Penso que quando alguém se predispõe a entrar no processo político-eletivo tem conhecimento de que, com sua atitude, envolve outras pessoas (e, diga-se de passagem, muitas, ou até a grande maioria, pessoas de bem), envolve ideais e vidas. Se for uma pessoa, cuja vida é pela postura ético-moral, o mínimo que se espera é uma atitude de levar sua candidatura até o fim, mesmo que se perca a eleição. Uma derrota nas urnas não é absolutamente nada, diante da palavra empenhada.

É com muita preocupação – e, por isso mesmo, estou me resguardando em um processo salutar de oração e reflexões – que acompanho o envolvimento, sem precedente, da liderança evangélica com a política partidária (resguardando alguns poucos líderes). Penso que, como diz Aristóteles, “todo homem é um ser político”, mas, entendo, que nem todos devem se envolver com a política partidária. Aquele que aceita o chamado ministerial e se entrega ao serviço sacerdotal é representante do sagrado. Seu papel mais sublime na sociedade é servir, pastorear e apascentar. Não há como associarmos o serviço pastoral, sacerdotal com o envolvimento na política partidária. É incrível como alguns líderes estão com seus olhos vendados e não percebem que estão sendo presas fáceis para o adversário maior! A semelhança dos ímpios que viviam no período de asafe, espremem a justiça e a sorvem como um copo d’água; não há o mínimo de preocupação com o chamado e a responsabilidade com a igreja.

É com muita veemência que leio o texto de Joel. Acredito que se trata de um texto histórico-escatológico. Um texto que nos remonta ao ataque das hostes infernais que virão para destruir a terra e os valores que a regem. Acredito, com muita tristeza no coração, que muitos dos nossos líderes, com suas atitudes mesquinhas e descompromissadas com o evangelho de Cristo, fazem parte, se não das primeiras fileiras, desse exército de gafanhotos. Que Deus nos proteja dos inimigos e das condutas dessas lideranças.

É com olhar profético e nutrindo a viva esperança que vejo no horizonte o agir de Cristo em prol dos fiéis. Não importa se percamos hoje, o mais importante é sermos fiéis aos ideais de nosso bom mestre e segui-los, independente de quaisquer ações contrárias. Não podemos jamais nos esquecer de que a Igreja sempre será a Igreja limpa, incorrupta, que não se vende; não barganha valores, nem se assenta nas rodas dos escarnecedores. Todos nós chegaremos diante de Cristo para a prestação de contas, e naquele dia cada um dará conta dos seus atos.

Que Deus nos proteja!

William de Jesus é pastor auxiliar na assembléia de Deus – Ministério Sul Fluminense e Diretor do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus de Angra dos Reis.

GRAÇA COMUM E GRAÇA SALVADORA

É comum nos dias atuais, observar certa confusão entre os conceitos relacionados à graça. Graça, numa definição bíblica e teológica, é o favor imerecido de Deus. Essa definição, por si só, remonta a um outro tema abrangente e importantíssimo, a soberania de Deus. Se graça é favor imerecido, então o primeiro passo quem dá é Deus. Destarte, não se pode analisar o conceito e objeto da graça desatrelada ao conceito da soberania de Deus.
É sabido que o conceito e o estudo de graça são abrangentes, por conseguinte, far-se-á, aqui, uma abordagem da graça comum e da graça salvadora com suas respectivas implicações na história e na teologia.

Por graça comum entende-se o favor de Deus em relação à humanidade. Wayne Grudem diz que “os incrédulos continuam a viver neste mundo unicamente por causa da graça comum de Deus”, ou seja, é o puro beneplácito de Deus que permite a todos que respirem, pois o salário do pecado é a morte, não a vida (Rm 6.23). Jesus, consciente da graça comum, incentivou seus discípulos a amarem seus próprios inimigos e rogarem ao Pai celeste, porque Ele faz nascer o sol sobre os maus e os bons (Mt 5.44,45). Paulo em Listra prega sobre a igualdade e equivalência de Deus em relação às bênçãos comuns (At 14.14-17). Pode-se depreender destes textos que o homem pecou em Adão e foi destituído da glória de Deus (Rm 3.23), desta forma, não poderia, por direito e legalidade, receber de Deus nada menos que o inferno; no entanto, não é isso que se vê ao longo da história, muito pelo contrário, vê-se um mundo que recebe da parte de Deus tratamento igualitário no que tange às bênçãos da chuva, do sol, da plantação, da colheita e do ar que se respira. Há, portanto, uma graça de Deus em tudo isso. A essa graça, os teólogos chamam graça comum. Comum, porque não confere salvação, não vem amalgamada aos valores implícitos que remontam os eleitos em Cristo a um patamar mais elevado de comunhão e santificação.

A graça comum de Deus confere aos homens habilidades profissionais, intelectuais, morais e físicas. É comum ver homens sem relação íntima com Deus alcançando sucesso nessas áreas, assim como é comum encontrar pessoas amantes da ética e da moral sem que tenham um mínimo de respeito aos valores sadios da Bíblia Sagrada. São frutos da graça comum de Deus dispensada a todos os homens. Esse entendimento levará o eleito e salvo em Cristo a não viver no ciclo das lágrimas em que viveu Asafe (Sl 73). Asafe não conseguia compreender que a graça comum de Deus concedia um bem comum a todos e que cabia a ele, enquanto homem de Deus, entender o motivo pelo qual Deus o levara por aquele caminho. Com certeza, aquele caminho serviu para fazê-lo crescer e desenvolver um relacionamento mais sólido com Deus.

Por outro lado, percebe-se que há uma graça de Deus que desemboca em salvação da alma. O apóstolo Paulo escreveu que “é pela graça que sois salvos” (Ef 2.8). Isso quer dizer que o homem nada fez e nada faz nesse processo de salvação. Ele é paciente, o agente é Deus em sua graça. Pode-se concluir que salvação é graça de Deus derramada na vida dos eleitos em Cristo (Ef 1.4). Nitidamente, não se trata de uma graça dispensada a todos os homens, mas a um grupo especial, e especial em Cristo. Paulo, em vários textos, refere-se à igreja como eleita. Perceba que a igreja não elege, mas é eleita, ou seja, mais uma vez depara-se com o favor imerecido de Deus – com a graça. Mas, uma graça que não se iguala à comum, pois não é outorgada a todos os homens. A essa graça, os teólogos chamam graça salvadora.

A graça salvadora é aquela que vem sobre o homem, “morto em seus delitos e pecados” (Ef 2.1), incapaz de ter qualquer reação em relação a tudo que diz respeito a Deus para “vivificá-lo juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2.5). É a graça que confere salvação (At 15.11; Rm 3.24; 5.15; 11.6; Tt 2.11).

A graça salvadora confere ao homem habilidades em todos os campos e esferas da vida, capacita-o a fazer boas obras e o leva a um compromisso mais sério com Deus e o sagrado. Muito embora, alguns, hoje em dia, têm tentado baratear a graça salvadora de Deus, oferecendo salvação como se fosse mercadoria estendida em um balcão, o que se percebe de bíblico e teológico nesse conceito é que a graça salvadora de Deus é oferecida para a justificação e vem atrelada a uma mudança de iniciativa e postura.

Depreende-se de tudo o que foi discutido que fazer o bem e se envolver com boas obras e ideologias por si só, são produtos da graça comum de Deus, mas quando se faz o bem e se envolve com boas obras e ideologias com um sentimento interno de engrandecer em tudo isso o nome de Jesus, são produtos da graça salvadora. A graça salvadora suplanta a graça comum porque esta desemboca em salvação.


William de Jesus é pastor auxiliar na Assembléia de Deus - Ministério Sul Fluminense - em Angra dos Reis - RJ e Diretor do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Angra dos Reis.