Senhor, ajude-nos a cairmos sempre prostrados aos seus pés em sinal de constrangimento, submissão e amor!



terça-feira, 4 de novembro de 2008

REFLEXÃO, É IMPORTANTE?

"Honrai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, respeitai o rei" 1 Pe 2.17


O dicionário da Língua Portuguesa descreve o vocábulo reflexão como sendo "ato ou efeito de refletir; exame da própria consciência; comentário, ponderação; consideração atenta". Depreende-se dessa afirmativa lingüística, portanto, que refletir perpassa pela solidão no sentido mais lato da palavra. Estar ou ser solitário não significa estar ou ser só. Camões asseverou que o "amor é solitário andar por entre a gente". Isso é magnífico, pois o ser pode se locomover entre a multidão e se encontrar solitário; destarte, solidão seria um estado de espírito. Indubitavelmente, a solidão é o "hodós", o caminho por onde deve passar todos os que almejam atingir o ápice da reflexão.

Os grandes homens de Deus, expostos na Bíblia Sagrada, enfrentaram a reflexão e conseguiram extrair grandes e inefáveis experiências que lhes valeram para seu ministério. É óbvio que a reflexão profunda não é privilégio daqueles que se entregam a Deus e ao Santo ofício Sacerdotal; muitos ligados à questão religiosa e à filosofia também andam pelo caminho da reflexão. Não se pode negar que refletir acarreta e abarca uma profundidade singular na aquisição de conceitos e princípios norteadores. Penso que foi exatamente por esta razão que Cristo foi o homem-Deus que mais exerceu o ministério da reflexão. Por inúmeras vezes, encontra-se o Mestre amado sozinho, em meditação... em reflexão. Foi assim no início de seu ministério terreno na ocasião de seu batismo e, posteriormente, o enfrentamento com o adversário no deserto da Judéia (Mt 4; Lc 4), foi assim na ocasião em que escolheu seus discípulos; no transcorrer de seu ministério e até em sua morte. Ele foi o maior exemplo de reflexão profunda.

O apóstolo Paulo também foi um exemplo de reflexão. Assevera à Igreja em Tessalônica para que orasse sem cessar (1 Ts 5.17). Isso leva-nos ao entendimento sadio de que nossa vida deve ser uma constante oração, um constante diálogo com o Senhor. Não se pode ter uma relação de diálogo com o Senhor desatrelado à vida de reflexão; não há oração sem reflexão. Quem vive uma vida de oração ou quem se predispõe a viver uma vida de oração, deve ter em mente que precisará desenvolver a prática da reflexão profunda. Deste modo, salienta-se que o ministério da reflexão, de que se falou alhures, é algo genuinamente bíblico e pertinente à vida de todos os que desejam o ofício sacerdotal.

Por tudo isso, precisamos desenvolver três máximas que a experiência da reflexão profunda nos proporciona:

a) É momento de crescimento com Deus

Há várias formas e métodos para crescermos e desenvolvermos nossa relação com Deus. Os acadêmicos estudam, dentro de uma logística filosófico-teológica (sei que se trata de um paradoxo), métodos, passos para se chegar a Deus. No entanto, pelos anais sagrados aliados às experiências marcantes e profundas dos heróis da fé, pode-se depreender que o melhor caminho ainda é o da reflexão profunda. É aqui nesse divã que Deus fala com o homem “cara a cara”, como diz o Reverendo Caio Fábio, “sem papai nem mamãe”. O momento da reflexão profunda é o instante em que o homem se abre para Deus sob dois aspectos básicos e fundamentais: primeiro, descobre-se como sendo o mais indigno dentre os homens. Percebe que há um vazio em sua alma; percebe sua insignificância diante do tédio. Segundo, descobre a grandiosidade de Deus. O homem que vive a reflexão profunda percebe que Deus é (para ele) do tamanho exato do seu vazio. É como se Deus existisse para ele. O brinquedo lego nos explica empiricamente essa lógica. Assim como as peças se encaixam perfeitamente formando objetos palpáveis, o homem na reflexão profunda percebe que Deus se encaixa perfeitamente em seu vazio formando um sujeito (para o mundo) e objeto (para Deus) palpável, visível e sólido! Isso é lindo.

b) É o momento da grande decisão

Todos os que primaram pelo caminho da reflexão profunda, tomaram decisões para o resto de suas vidas. É fato que não se entra no processo de reflexão sem que se tome, ao menos, uma decisão modificadora. Jacó no vau de Jaboque (Gn 32.22-32) se encontrou com o Senhor de forma singular até aquele momento, e não saiu dali do jeito como entrou, muito pelo contrário. Após uma noite de profunda “luta” com o Anjo do Senhor, profunda reflexão; Jacó não teve outra alternativa senão a de tomar uma grande, importante, valiosa e duradoura decisão: mudar completamente de vida. A vida de Jacó se divide em antes e depois de Jaboque, ou seja, antes e depois da noite em que experimentou a reflexão profunda, consequentemente, a noite da grande decisão.
É assim que acontece com todos aqueles que desejam experimentar o processo da reflexão profunda, nunca mais é o mesmo. Passa pela tomada de decisão. Diria que passa por uma "metanóia"; uma mudança radical. São decisões profundas que conduzem o homem a vivenciar na própria carne o desenvolvimento progressivo do relacionamento com Deus.
c) É o momento da confissão

Jesus, quando ensinou seus discípulos a orarem (Mt 6 e outras referências), por inúmeras vezes asseverou a importância da oração reflexiva que diferencia da oração congregacional. Chama-se oração congregacional aquela em que se faz com a participação da igreja ou de um grupo de irmãos. Essa oração é bíblica, é importante e deve sim fazer parte de nossa vida religiosa, pois aí está o elo visível dessa grande família e irmandade que é o corpo místico de Cristo. Chama-se oração reflexiva aquela em que o homem entra em seu quarto, fecha a porta e sozinho com Deus começa um diálogo franco, aberto. É o momento de falar e ouvir, o momento de tagarelar com Deus. É o instante da confissão sadia. Não há nada mais lindo e emocionante do que ter o prazer de apresentar a Deus os nossos pecados! Primeiro, porque Deus tem poder de perdoá-los e, segundo, porque após uma confissão marcada pela sinceridade recebe-se um alívio semelhante ao de quem viaja por três dias sem beber água e se depara com um calor causticante, senta-se em uma sombra e ingere um copo com água bem fresca. É um alívio indescritível!!
Orar sozinho é derramar, sem o mínimo de vergonha, sua alma diante de Deus. É refletir em sua vida e naquela que Deus te oferece; é chegar à conclusão de que nada se tem, nada se é, diante da imensidão do que Deus tem para ti; diante da imensidão do que Deus é em ti. A oração reflexiva leva-nos ao encontro mais sublime com Deus, ou seja, à confissão.

Conclusão

Não posso negar que estou vivendo um período, que já ultrapassa três meses, de profunda reflexão com Deus. Tem sido um período de grandes conquistas espirituais; de grandes lições que, com toda certeza, me levará a uma relação mais estreita com meu Deus. Esse período tem servido para eu compreender a grandiosidade do Senhor! Ele é muito maior do que a igreja institucional, do que o conglomerado de homens que constituem a igreja, enfim. Portanto, nada, absolutamente nada, será capaz de fazer com que Deus diminua; se extinga do seio de Sua igreja.
Tem sido um momento singular em minha trajetória cristã. Convido o caro leitor a entrar por esse caminho, o caminho da reflexão profunda acompanhada de oração, leitura e estudo sistemático, com pitadas de confissão séria e sadia.

Sola Scriptura.