Senhor, ajude-nos a cairmos sempre prostrados aos seus pés em sinal de constrangimento, submissão e amor!



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

''Ó PROFUNDIDADE DAS RIQUEZAS!"

 Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas.
Rm 11.36

Interessante notar que o primeiro versículo do capítulo doze da Epístola de Paulo aos Romanos se liga ao texto anterior através de uma conjunção coordenativa conclusiva (pois, posposto ao verbo) "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus...".  Isto leva-nos a entender que o capítulo doze é uma extensão do capítulo anterior; não há como fazer uma leitura desse texto sem levar em conta o que Paulo disse anteriormente.

O apóstolo, após dissecar sobre o futuro escatológico de Israel e a soberania de Deus; nos últimos versículos do capítulo onze celebra ao Senhor evocando a "profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus..." (Rm 11.33).  Daí, pode-se afirmar que há uma evocação de todo tipo de conhecimento, seja o produzido pelo intelecto,a partir de estudos sistêmicos dos mais variados assuntos; até o produzido pela fé.  Sim! o conhecimento produzido pela fé tem relação estreita com as convicções que exaurem daqueles que se posicionam como ouvintes das assertivas axiomáticas pronunciadas pelo Senhor através da revelação pessoal ou bíblica e das circunstâncias históricas.

Há, nitidamente, um interesse no apóstolo em fazer conhecido seus pressupostos - inclusive já dissecados em textos anteriores - de sua insignificância diante da grandeza do Senhor.  "Ó profundidade das riquezas" é, portanto, um vocativo que vai muito além de um termo independente de uma oração ou período; é uma afirmação congênita de que os mais profundos conhecimentos filosóficos ou teológicos não são, por si só, suficiente para o conhecimento de Deus.

A única vontade expressa pela verdade ímpar nesse texto é a de que cabe ao mero mortal o suplício incondicional ao Senhor.  Como afirmou C. H. Spurgeon:

"Ó Deus, se tu me destruíres, eu o mereço.  Se tu nunca me dirigires um olhar de consolo, não tenho de que me queixar.  Mas, Senhor, salva um pecador, por tua misericórdia.  Não tenho o mínimo direito de pedir nada, mas oh, porque tu és  cheio de graça, olha para uma miserável alma cega que deseja contemplar-te."

Há necessidade, mais que urgente, de se pensar numa proposta como esta.  Até pelo fato de ser genuinamente bíblica e proferida por dois dos "grandes" da fé cristã: Paulo e Spurgeon. 

Evoquemos também a profundidade das riquezas para ser testemunha viva de que nos posicionamos diante do Senhor como um autêntico servo necessitado de suas misericórdias.

É isso.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

TAMBÉM ACREDITO NUM JESUS ENCARNADO 100% HOMEM E 100% DEUS.

Há uma discussão sadia na blogosfera envolvendo dois amantes do estudo teológico, dois pastores que fazem parte do meu ciclo de amizade: Pr. Luís Felipe de Azevedo e Pr. Ciro Sanches Ziblrdi

Antes de externar, de forma sistêmica, um posicionamento sobre o aludido tema, penso que é salutar expôr algumas considerações sobre tais pastores e teólogos.  Quanto ao Pr. Luís Felipe, penso que sou a pessoa menos indicada para falar sobre sua capacidade intelectual, seu amor pelo estudo sistemático das Sagradas Escrituras e seu zelo pela sã doutrina; pelo fato de ser, antes de tudo, seu amigo de longas datas.  No entanto, faz-se necessário uma exposição.  Trata-se de uma pessoa que tem compromisso com o zelo da sã doutrina; tem lecionado Teologia Sistemática durante muitos anos em alguns Seminários de nossa querida Angra dos Reis, e suas aulas são acompanhadas vividamente por alunos que almejam ao sucesso ministerial e à condução pelo caminho do saber teológico embasado numa perspectiva genuinamente bíblica.

Quanto ao Pr. Ciro, confesso que ainda não tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, mas isto acontecerá na noite do dia 6 de dezembro (ele estará em nossa 3ª Escola Bíblica - Angra dos Reis).  No entanto, posso testemunhar que se trata de uma pessoa convicta e sincera em seus posicionamentos.  Acompanho seus escritos desde muito tempo nos periódicos do Mensageiro da Paz, além de acompanhar seu blog e ler seus livros.  Posso relatar que defende seus posicionamentos de forma veemente e luta para levar aos seus leitores uma tese embasada nos Escritos Sagrados.  É também compromissado com a sã doutrina.

Faz-se necessário acrescentar o fato de ser normal a exposição do contraditório; o que deve ser evitado é a afronta às pessoas.  Leonel Brizola, grande estadista brasileiro, certa vez disse sobre alguém que o contradizia: "Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizeres".  Pois bem, se até os não crentes aceitam, em nome do bom senso, a exposição do contraditório, não seremos nós quem vai agir de forma centralizadora e a semelhança do dono da verdade absoluta.

Sou amante do estudo sistemático da Palavra do Senhor e de suas Doutrinas; desta forma, comungo da ideia daqueles que defendem a completa, total humanidade de Jesus amalgamada à sua completa e total divindade.  Penso que nossa conduta teológica deva se pautar sob dois pilares:  o Texto Sagrado e os teóricos da teologia (obviamente que os Textos Sagrados falam por si só e suplantam todas as demais vertentes). 

Quanto ao Texto Sagrado, há muitas referências que corroboram com tal assertiva de que Jesus foi, encarnado, 100%  homem (ponto de divergência nessa discussão teológica sadia) Gl 4.4; Mt 1.18 – 2.12; Lc 1.30 – 38; 2.1-20; Rm 1.3; além de muitas outras referências.


Quanto aos teóricos, poderíamos começar citando os Concílios, mas desejo me ater ao pensamento de Tomás de Aquino (1225 – 1274), maior nome do Período da Escolástica.  Em sua “Summa Teológica”, Aquino defende a completa humanidade de Jesus, asseverando que o mesmo não possuía uma natureza semelhante à nossa, pois nossa natureza está comprometida pela presença do pecado original.  Defende a tese de que a natureza humana de Jesus corresponde à natureza humana plena, sem pecado, sem ser “adulterada”; ou seja, a natureza do homem antes da queda.  O pecado deformou a natureza humana; logo, nós que possuímos uma natureza pós queda é que temos uma natureza deformada, enquanto Cristo possuía uma natureza humana plena.

Afirmar que Jesus encarnado não possui uma natureza semelhante à nossa (pós queda) nem uma natureza semelhante a do homem antes da queda é forçar a interpretação de alguns textos para solidificar um conceito “revelado” no século 21.  É aceitar que aquilo que o Senhor não revelou aos Pais da Igreja; aquilo que o Senhor ocultou aos Mestres da Idade Média; aquilo que o Senhor omitiu aos líderes da Reforma e aos mais imponentes teólogos do nosso século; talvez tenha revelado a algum teólogo hoje.  Se isso aconteceu, louvo ao Senhor, pois estou fazendo parte de uma geração que ficará marcada por tal reviravolta nos conceitos cristológicos.  No entanto, prefiro, no momento, ficar com a Teologia Tradicional.  Fico, ainda, com a Teologia Reformada.  Permaneço com a Teologia Pentecostal.

Acredito no Jesus encarnado plenamente Deus e plenamente Homem.  Não há racionalidade; mas, para que tê-la?  Pois na falta dessa tal racionalidade é que se fundamenta o mistério da encarnação.

É o que penso.

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domingo, 17 de outubro de 2010

GRAÇA COMUM E GRAÇA SALVADORA


 É comum nos dias atuais, observar certa confusão entre os conceitos relacionados à graça.  Graça, numa definição bíblica e teológica, é o favor imerecido de Deus.  Essa definição, por si só, remonta a um outro tema abrangente e importantíssimo, a soberania de Deus. Se graça é favor imerecido, então o primeiro passo quem dá é Deus.  Destarte, não se pode analisar o conceito e objeto da graça desatrelada ao conceito da soberania de Deus.
    
É sabido que o conceito e o estudo de graça são abrangentes, por conseguinte, far-se-á, nesse artigo, uma abordagem da graça comum e da graça salvadora com suas respectivas implicações na história e na teologia.
    
Por graça comum entende-se o favor de Deus em relação à humanidade.  Wayne Grudem diz que “os incrédulos continuam a viver neste mundo unicamente por causa da graça comum de Deus”,  ou seja, é o puro beneplácito de Deus que permite a todos que respirem, pois o salário do pecado é a morte, não a vida (Rm 6.23).  Jesus, consciente da graça comum, incentivou seus discípulos a amarem seus próprios inimigos e rogarem ao Pai celeste, porque Ele faz nascer o sol sobre os maus e os bons (Mt 5.44,45).  Paulo em Listra prega sobre a igualdade e equivalência de Deus em relação às bênçãos comuns (At 14.14-17).  Pode-se depreender destes textos que o homem pecou em Adão e foi destituído da glória de Deus (Rm 3.23), desta forma, não poderia, por direito e legalidade, receber de Deus nada mais que o inferno; no entanto, não é isso que se vê ao longo da história, muito pelo contrário, vê-se um mundo que recebe da parte de Deus tratamento igualitário no que tange às bênçãos da chuva, do sol, da plantação, da colheita e do ar que se respira.  Há, portanto, uma graça de Deus em tudo isso.  A essa graça, os teólogos chamam graça comum.  Comum, porque não confere salvação, não vem amalgamada aos valores implícitos que remontam os eleitos em Cristo a um patamar mais elevado de comunhão e santificação.
    
A graça comum de Deus confere aos homens habilidades profissionais, intelectuais, morais e físicas.  É comum ver homens sem relação íntima com Deus alcançando sucesso nessas áreas, assim como é comum encontrar pessoas amantes da ética e da moral sem que tenham um mínimo de respeito aos valores sadios da Bíblia Sagrada.  São frutos da graça comum de Deus dispensada a todos os homens. Esse entendimento levará o eleito e salvo em Cristo a não viver no ciclo das lágrimas em que viveu Asafe (Sl 73).  Asafe não conseguia entender que a graça comum de Deus concedia um bem comum a todos e que cabia a ele, enquanto homem de Deus, entender o motivo pelo qual Deus o levara por aquele caminho.  Com certeza, aquele caminho serviu para fazê-lo crescer e desenvolver um relacionamento mais sólido com Deus.
    
 Por outro lado, percebe-se que há uma graça de Deus que desemboca em salvação da alma.  O apóstolo Paulo escreveu que “é pela graça que sois salvos” (Ef 2.8).  Isso quer dizer que o homem nada fez e nada faz nesse processo de salvação.  Ele é paciente, o agente é Deus em sua graça.  Pode-se concluir que salvação é graça de Deus derramada na vida dos eleitos em Cristo (Ef 1.4).  Nitidamente, não se trata de uma graça dispensada a todos os homens, mas a um grupo especial, e especial em Cristo. Paulo, em vários textos, refere-se à igreja como eleita. Percebam que a igreja não elege, mas é eleita, ou seja, mais uma vez depara-se com o favor imerecido de Deus – com a graça.  Mas uma graça que não se iguala à comum, pois não é outorgada a todos os homens.  A essa graça, os teólogos chamam graça salvadora.
    
A graça salvadora é aquela que vem sobre o homem, “morto em seus delitos e pecados” (Ef 2.1), incapaz de ter qualquer reação em relação a tudo que diz respeito a Deus  para “vivificá-lo juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2.5).  É a graça que confere salvação (At 15.11; Rm 3.24; 5.15; 11.6; Tt 2.11).
    
A graça salvadora confere ao homem habilidades em todos os campos e esferas da vida, capacita-o a fazer boas obras e o leva a um compromisso mais sério com Deus e o sagrado.  Muito embora, alguns, hoje em dia, têm tentado baratear a graça salvadora de Deus, oferecendo salvação como se fosse mercadoria estendida em um balcão, o que se percebe de bíblico e teológico nesse conceito é que a graça salvadora de Deus é oferecida para a justificação e vem atrelada a uma mudança de iniciativa e postura. 
    
Depreende-se de tudo o que foi discutido que fazer o bem e se envolver com boas obras e ideologias por si só, é produto da graça comum de Deus, mas quanto a fazer o bem e se envolver com boas obras e ideologias com um sentimento interno de engrandecer em tudo isso o nome de Jesus, é produto da graça salvadora.  A graça salvadora suplanta a graça comum porque desemboca em salvação.

Em Cristo, sempre,