Senhor, ajude-nos a cairmos sempre prostrados aos seus pés em sinal de constrangimento, submissão e amor!



segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

SER PASTOR É...

Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, vigilante, sóbrios, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, mas moderado, inimigo de contendas, não ganancioso; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos sob disciplina, com todo respeito, não neófito, para que não se ensoberbeça e caia na condenação do diabo. (1 Tm 3.1-6)




Introdução

O vocábulo “pastor” vem do hebraico “raah”, no grego “poimén” e no latim “pastor”. Todos esses vocábulos têm a conotação de dirigir, cuidar dos rebanhos de ovelhas. Champlin afirma que “no sentido literal, um 'pastor' é alguém que cuida do rebanho. Aparece pela primeira vez em Gênesis 4.2, a fim de descrever a ocupação de Abel”.

Depreende-se dessa definição literal do vocábulo pastor, que há uma associação firme entre o ser pastor no contexto de João 10, onde Jesus faz apologia daquele que é chamado para dirigir seu rebanho, com a semântica que envolve e dilacera esse vocábulo.

Há muitos textos na Bíblia em que se percebe uma apologia ao ministério pastoral. No entanto, em João 10, vê-se o próprio Cristo encarnado fazer uma admoestação àqueles que almejam o episcopado. Atentemos para algumas características do verdadeiro pastor:

a) Pode entrar legalmente no aprisco das ovelhas (Jo 10.1)

O pastor é aquele que tem livre acesso às ovelhas. Pode olhar no olho da ovelha. “Entrar pela porta” ou no aprisco tem a conotação de respeito, autoridade reconhecida. Ele não pula muro, não precisa deixar a noite chegar, muito pelo contrário, entra a qualquer hora, anda no meio das ovelhas com autoridade espiritual.

Ser pastor é entrar legalmente no aprisco, é apascentar, ou seja, cuidar, zelar, proteger e conduzir as ovelhas. É óbvio que não se deseja passar a idéia de que ovelha é como “vaca de presépio”, não; ovelha tem opinião própria, é ser inteligente; e por isso mesmo ser pastor é saber conviver com o contraditório.

b) O bom pastor instrui as suas ovelhas com a sua palavra e o seu exemplo, e as guia (Jo 10.7)

Instruir é muito mais que transferir conhecimento. Instruir pertence ao campo semântico abrangente de alguém que amadurece uma idéia, um conceito; que vê brotar, nascer e que acompanha seu crescimento. Instruir alguém na Palavra é conduzir através do conhecimento, da simplicidade, da graça, a ovelha à plena vida com Deus.

Diferentemente do corpo diaconal, o pastor tem o compromisso de viver uma vida de constante oração e estudo sistemático da Palavra (At 6.4). Pastor que não tem autoridade bíblica pode até ter credencial de pastor, mas não o é. O verdadeiro e maior compromisso e missão do ministério pastoral é instruir a ovelha no caminho certo através da ministração da Palavra.

Percebe-se ainda, nesse versículo 7, que a ortopraxia deve ser considerada. O pastor instrui também com o seu exemplo. O pastor deve ter uma vida ilibada, uma conduta séria, firme. O pastor não foi chamado para administrar a casa de Deus como se fosse uma empresa e dela tirar proveito próprio. Infelizmente é o que mais vemos nos dias pós-modernos! Homens que lutam para ter uma credencial de pastor a fim de fundarem uma igreja e agirem como uma empresa. Pastor deve ter vida séria.

c) O verdadeiro pastor é inteiramente devotado ao seu rebanho e dá a própria vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11)

É claro que o texto faz menção direta ao ato expiatório de Cristo, onde “se entregou a si mesmo por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). Mas, fica evidente também, que ele “cutuca” o postulante ao ministério pastoral, pois esse deve ser inteiramente devotado às ovelhas; deve viver a vida das ovelhas, sofrer seu sofrimento, chorar seu choro.

Dentre muitas características que o pastor verdadeiro deve ter, uma que chama a minha atenção é a empatia. O pastor deve sentir o sentimento da ovelha, deve comungar com a ovelha. Isso é ser pastor. Há muitos, hoje na pós-modernidade, que não exercem o ministério pastoral, não pastoreiam, não conhecem as ovelhas, não visitam suas ovelhas, não vivenciam os problemas das ovelhas. Cristo, o Pastor maior, afirma categoricamente que o verdadeiro pastor dá sua vida pela ovelha. Não é isso que presenciamos hoje, muito pelo contrário!

“Dá a vida pela ovelha” tem a conotação muito mais abrangente que a literalidade. É padecer junto com a ovelha. O pastorado é um casamento, é uma só carne, um só pensamento, um só ideal. Costumo dizer em minhas aulas de Teologia Pastoral que o pastor é aquele que “como sapo e arrota camarão”. Chora e chora muito, mas aos pés do Senhor; diante das ovelhas, ele se apresenta como o ajudador, o que tem a palavra certa: a palavra de Deus.

d) O verdadeiro pastor garante a segurança do rebanho, tanto agora como para toda a eternidade (Jo 10.27-30)

A pós-modernidade, com suas incertezas plenas têm alavancado uma gama de pastores para esse caminho. O caminho da insegurança. Jesus foi claro e objetivo, afirmou que o verdadeiro pastor garante segurança às ovelhas. A segurança do pastor deve está na ortodoxia de sua mensagem, no conteúdo firme e sólido da exposição bíblica, e na ortopraxia de sua vida; sua conduta ilibada. Há uma mensagem segura, firme e sólida de vida eterna e salvação em Cristo que o inimigo maior que não se pregue, mas que o pastor deve anunciar, pois é esta mensagem que traz segurança às ovelhas.

Diante do exposto acima, não se pode negar que não existe bem maior nesse mundo do que ser chamado e vocacionado para o santo ministério pastoral. Não há honra maior do que ser pastor. É nítido que muitos, com suas atitudes mesquinhas, menosprezam e tentam diminuir a grandeza desse ministério, mas além de não conseguirem, vão receber do verdadeiro e sumo pastor suas devidas recompensas.

Não posso terminar esse artigo sem citar mais uma vez o Dr. Champlin: “Todas essas características fazem violento contraste com os falsos pastores, que são indivíduos totalmente egoístas e perversos, e que, na realidade, não podem oferecer qualquer dessas vantagens e bênçãos ao rebanho de Deus. Por conseguinte, é dito aqui que o verdadeiro pastor, que é Cristo, entra pela porta, isto é, pelos canais espirituais competentes, enquanto não tem necessidade de iludir, posto que todos os seus propósitos são benévolos”.

Destarte, façamos reflexões profundas e, caso necessário, mudemos nosso comportamento ante o ministério grandioso que nos foi confiado.

Sola Scriptura.