"Jesus entrou no tempo e expulsou todos os que ali vendiam e compravam;
e revirou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas."
(Mt 21.12)
Tenho vivido experiências com o Senhor, nesses últimos dias, semelhantes àquelas sobre as quais Ele mesmo falou "entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recompensará" (Mt 6.6). Óbvio que o contexto aqui é o da oração cristã em detrimento às práticas dos fariseus; no entanto o princípio da experiência plena aos pés do Senhor e, muitas vezes, historificando-se somente aos Seus pés, faz-se presente em todas as experiências que culminam em minha vida.
Jesus entra em Jerusalém triunfalmente para aquela que seria a semana da traição, via crucis, morte no Gólgota e ressurreição ao terceiro dia. Após sua entrada, vai ao templo e lá observa as práticas capitalistas exercidas por cambistas que vendiam animais para o sacrifício, dando uma "ajudazinha" aos cultuantes. Neste artigo, não tenho por objetivo me deter na prática dos que vendiam, mas na prática dos que compravam os animais e os oferecia no templo. Essa prática era comum nos dias de Jesus, no entanto, a condenação e a crítica de Jesus feitas a essa prática leva-nos a algumas reflexões profundas, pois esse contexto do capítulo 21 do Evangelho segundo Mateus é muito pertinente e coaduna com as práticas da realidade do século 21.
O que seria, então, a prática de comprar cultos? Isto tem a ver com a ausência do culto diário, da relação de intimidade com o Senhor através da vida de santificação. Muitos hoje, não dedicam momentos diários para o cultivo da amizade com o Senhor. Não se faz mais a leitura da Bíblia como uma prática devocional diária, nem mesmo se alimenta uma vida de oração. O que se observa, hoje, é a vida cristã sendo alimentada com os cultos nos templos, com palavras que têm por objetivo único fazer cócegas nos ouvidos dos ouvintes, ou seja, fala-se o que a plateia quer ouvir. Os louvores são completamente dirigidos, há todo um aparato para que o culto seja agradável nos moldes humanos. Sabe o que mais me intriga? É o fato de que, caso não tenhamos atenção aos fatos, cairemos nessa artimanha do adversário. É mais fácil não militarmos diariamente ao lado do Senhor através da vida de oração e santificação, porque teremos à noite no templo um culto totalmente dirigido, do que o contrário.
Jesus denuncia a prática do culto embalado, da ausência do sacrifício diário, sobre o qual o apóstolo Paulo fala minuciosamente na Carta aos Romanos 12. Essa crítica enfática atinge-nos frontalmente, pois os teólogos da prosperidade com suas nuances têm contribuído, e muito, para que essa realidade seja uma prática diária; ou seja, o papel que coube no passado aos líderes de uma religião farisaica, cabe no presente a alguns líderes que não têm por ambição a exaltação plena do nome de Jesus, somente de Jesus, mas aliada a essa exaltação fictícia, a exaltação do próprio ser humano - ao que chamamos de antropocentrismo.
Ofereçamos nossos sacrifícios ao Senhor, ofereçamos nosso culto genuíno ao Senhor. Que nosso encontro nos templos sejam a culminância de um culto diário, perene, simples e verdadeiro. Que nada que ultrapasse a isso ou que não se aproxime disso faça parte de nossa vida cristã.
É isso.