Na atual conjectura que estamos vivendo, não se faz necessário ser um “PH.D” para tomar conhecimento de que estamos em crise. Esta crise atinge-nos através dos mais diversificados setores: crise na economia, na política, na saúde, na educação; enfim, crise na esfera material. Na religião, não poderia ser diferente. Estamos, também, vivendo uma crise na religiosidade.
Confesso que perscrutando um texto bíblico, Jo. 4:4, cheguei a um envolvimento mais profundo dessa crise na realidade atual. Nosso problema já foi apresentado por Cristo na passagem supra e, no século passado, por Dietrich Bonhoeffer. Analisemos primeiro o pensamento de Bonhoeffer e depois a dissertação de Cristo.
Dietrich Bonhoeffer (D.B.), pastor e teólogo alemão martirizado no ano de 1945 por defender os ideais cristãos e lutar ideologicamente contra os postulados de Adolf Hitler, foi o arauto, o profeta que o Senhor levantou no século passado para apresentar as razões por que a igreja e a sociedade passaram por crise religiosa. D.B. percebeu que “o mundo chegou à maioridade” e, por conseguinte, necessitava de um “cristianismo a-religioso”, ou seja, a religião que permeava o ser humano era herdada, mascarada, não produzia mudança de vida nem de comportamento.
Enquanto a igreja se fechava em seus “dogmas” e tradições que não a levavam a lugar algum, o mundo “crescia” ideologicamente, se alimentando das filosofias de Frederich Nietzsche que pregava “a morte de Deus” e o “advento do super-homem”.
D.B. foi o homem levantado pelo Senhor para anunciar à sua geração que a igreja precisa muito mais do que uma religião herdada, muito mais do que um nome, uma fachada, pois tudo isso, sem a essência da religião de Cristo – o próprio Cristo – não passa de um cristianismo barato, sem o Cristo da cruz.
A voz de D.B. foi calada por Hitler, mas sua mensagem continua a nos falar bem forte. Que o nosso cristianismo possa ser desprovido da religião farisaica que nos permite embaraçarmos com as doutrinas bíblicas e cristãs pertinentes à salvação em detrimento às tradições e aos dogmas puramente “religiosos”.
O próprio Jesus falou-nos sobre o cristianismo sem Cristo, que nos é oferecido pela religião herdada, em Jo.4:4. É importante frisar que “era necessário Jesus passar por Samaria”. O texto, em nenhum momento nos passa a impressão de que aquele era o único caminho. Havia uma necessidade de ordem espiritual. Quando Jesus trava o diálogo com a samaritana, ela lhe fala sobre a adoração no monte, quando os judeus adoravam no templo. Este era o grande problema. Aí se concentrava a problemática da religião herdada, e Jesus tratou logo de resolvê-la: “... os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade...” (Jo. 4:23).
O que vemos aqui é que a samaritana nem sabia por que adorava no monte. Ela assim o fazia porque seus pais também assim o fizeram, ou seja, sua forma de adorar e apresentar sua religião foi herdada. Não havia significado em sua religião, e quando nossa religião perde o significado, nosso cristianismo perde Cristo.
O grande problema não está em sermos ou não religiosos, mas em sabermos se Cristo está ou não no nosso cristianismo. Vejamos algumas idagações: onde estamos indo em nome de nossa religião? A que tipo de programas estamos assistindo? Que tipo de revista estamos folheando? Que tipo de culto prestamos a Deus?
Quando a religião é puramente herdada e sem Cristo, temos a ”certeza” da salvação, mesmo que não a vivenciemos, mas achamos que a temos; daí advém as “algazarras” nos encontros joviais onde a reverência sede lugar ao extravaso desordenado. Não somos adeptos à liturgia letárgica e ultrapassada, mas defendemos a boa ordem no culto e a adoração, além da reverência. Cremos que podemos prestar um culto alegre, carismático e longe de um mundanismo que é reflexo da religião herdada... cristianismo sem Cristo.
Aprendamos com Jesus e com Bonhoeffer e analisemos nossos postulados e nossas vidas, a fim de chegarmos a uma conclusão satisfatória sobre nossa conduta. Que tipo de crentes temos sido? O nosso cristianismo tem feito a diferença? Caso não, é porque temos sido simplesmente religiosos sem Cristo.
O que Jesus exigiu da samaritana, e exige de nós, igreja poderosa e militante, é que entendamos sua mensagem e deixemos de lado as tradições puramente denominacionais que não nos levam a nada, e nos firmemos na doutrina de Sua palavra. Côncios de que a religião de Cristo é aquela que nos trás experiências profundas, marcantes e lineares. Precisamos mais do que nunca fixar nossos olhos em Cristo, firmarmos no cristianismo com Cristo e mancharmos para o Céu.
Deixando o evangelho barato, abraçando a religião de Cristo, nosso cristianismo fará a diferença.
William de Jesus é Pastor auxiliar na Assembléia de Deus – Ministério Sul Fluminense e Diretor do IBADAR (Instituto Bíblico das Assembléias de Deus de Angra dos Reis).
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